1 Muitos acreditam que chegamos à velhice do Estado
nacional. Desde 1945, dizem, sua soberania foi ultrapassada
pelas redes transnacionais de poder, especialmente as do
4 capitalismo global e da cultura pós-moderna. Alguns
pós-modernistas levam mais longe a argumentação, afirmando
que isso põe em risco a certeza e a racionalidade da civilização
7 moderna, entre cujos esteios principais se insere a noção segura
e unidimensional de soberania política absoluta, inserida no
conceito de Estado nacional. No coração histórico da sociedade
10 moderna, a Comunidade Europeia (CE) supranacional parece
dar especial crédito à tese de que a soberania político-nacional
vem fragmentando-se. Ali, tem-se às vezes anunciado a morte
13 efetiva do Estado nacional, embora, para essa visão, uma
aposentadoria oportuna talvez fosse a metáfora mais adequada.
O cientista político Phillippe Schmitter argumentou que,
16 embora a situação europeia seja singular, seu progresso para
além do Estado nacional tem uma pertinência mais genérica,
pois “o contexto contemporâneo favorece sistematicamente a
19 transformação dos Estados em confederatii, condominii ou
federatii, numa variedade de contextos”.
É verdade que a CE vem desenvolvendo novas formas
22 políticas, que trazem à memória algumas formas mais antigas,
como lembra o latim usado por Schmitter. Estas nos obrigam
a rever nossas ideias do que devem ser os Estados
25 contemporâneos e suas inter-relações. De fato, nos últimos
25 anos, assistimos a reversões neoliberais e transnacionais de
alguns poderes de Estados nacionais. No entanto, alguns de
28 seus poderes continuam a crescer. Ao longo desse mesmo
período recente, os Estados regularam cada vez mais as esferas
privadas íntimas do ciclo de vida e da família. A
31 regulamentação estatal das relações entre homens e mulheres,
da violência familiar, do cuidado com os filhos, do aborto e de
hábitos pessoais que costumavam ser considerados particulares,
34 como o fumo, continua a crescer. A política estatal de proteção
ao consumidor e ao meio ambiente continua a proliferar. Tudo
indica que o enfraquecimento do Estado nacional da Europa
37 Ocidental é ligeiro, desigual e singular. Em partes do mundo
menos desenvolvido, alguns aspirantes a Estados nacionais
também estão fraquejando, mas por razões diferentes,
40 essencialmente “pré-modernas”. Na maior parte do mundo, os
Estados nacionais continuam a amadurecer ou, pelo menos,
estão tentando fazê-lo. A Europa não é o futuro do mundo. Os
43 Estados do mundo são numerosos e continuam variados, tanto
em suas estruturas atuais quanto em suas trajetórias.
Michael Mann. Estados nacionais na Europa e noutros continentes: diversificar, desenvolver, não morrer. In: Gopal Balakrishnan. Um mapa da questão nacional. Vera Ribeiro (Trad.). Rio de Janeiro: Contraponto, 2000, p. 311-4 (com adaptações).
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