TEXTO I
A educação benevolente e frouxa que hoje predomina nas casas e escolas é mais nociva do que uma sala de aula com teto e chão furados e livros aos frangalhos.
Educação é algo bem mais amplo do que escola. Começa em casa, onde precisam ser dadas as primeiras informações sobre o mundo (com criança também se conversa!), noções de postura e compostura, respeito, limites. Continua na vida pública, nem sempre um espetáculo muito edificante, na qual vemos políticos concedendo-se um bom aumento em cima dos seus já polpudos ganhos, enquanto professores recebem salários escrachadamente humilhantes, e artistas fazendo propaganda de bebida num momento em que médicos, pais e responsáveis lutam com a dependência química de milhares de jovens. Quem é público, mesmo que não queira, é modelo: artistas, líderes, autoridades. Não precisa ser hipócrita nem bancar o santarrão, mas precisa ter consciência de que seus atos repercutem, e muito. Mas vamos à educação nas escolas: o que é educar? Como deveria ser uma boa escola? Como se forma e se mantém um professor eficiente, como se preparam crianças e adolescentes para este mundo competitivo onde todos têm direito de construir sua vida e desenvolver sua personalidade? É bem mais simples do que todas as teorias confusas e projetos inúteis que se nos apresentam. Não sou contra colocarem um computador em cada sala de aula neste reino das utopias, desde que, muito mais e acima disso, saibamos ensinar aos alunos o mais elementar, que independe de computadores: nasce dos professores, seus métodos, sua autoridade, seu entusiasmo e seus objetivos claros. A educação benevolente e frouxa que hoje predomina nas casas e escolas prejudica mais do que uma sala de aula com teto e chão furados e livros aos frangalhos. Estudar não é brincar, é trabalho. Para brincar temos o pátio e o bar da escola, a casa. Sair do primeiro grau tendo alguma consciência de si, dos outros, da comunidade onde se vive, conseguindo contar, ler, escrever e falar bem (não dá para esquecer isso, gente!) e com naturalidade, para se informar e expor seu pensamento, é um objetivo fantástico. As outras matérias, incluindo as artísticas, só terão valor se o aluno souber raciocinar, avaliar, escolher e se comunicar dentro dos limites de sua idade. No segundo grau, que encaminha para a universidade ou para algum curso técnico superior, o leque de conhecimentos deve aumentar. Mas não adianta saber história ou geografia americana, africana ou chinesa sem conhecer bem a nossa, nem falar vários idiomas se nem sequer dominamos o nosso. Quer dizer, não conseguimos nem nos colocar como indivíduos em nosso grupo nem saber o que acontece, nem argumentar, aceitar ou recusar em nosso próprio benefício, realizando todas as coisas que constituem o termo tão em voga e tão mal aplicado: “cidadania”. O chamado terceiro grau, a universidade, incluindo conhecimentos especializados, tem seu fundamento eficaz nos dois primeiros. Ou tudo acabará no que vemos: universitários que não sabem ler e compreender um texto simples, muito menos escrever de forma coerente. Universitários, portanto, incapazes de ter um pensamento independente e de aprender qualquer matéria, sem sequer saber se conduzir. Profissionais competindo por trabalho, inseguros e atordoados, logo, frustrados. Sou de uma família de professores universitários. Fui por dez anos titular de linguística em uma faculdade particular. Meu desgosto pela profissão – que depois abandonei, embora gostasse do contato com os alunos – deveu-se em parte à minha dificuldade de me enquadrar (ah, as chatíssimas e inócuas reuniões de departamento, o caderno de chamada, o currículo, as notas...) e em parte ao desalento. Já nos anos 70 recebíamos na universidade jovens que mal conseguiam articular frases coerentes, muito menos escrevê-las. Jovens que não sabiam raciocinar nem argumentar, portanto incapazes de assimilar e discutir teorias. Não tinham cultura nem base alguma, e ainda assim faziam a faculdade, alguns com sacrifício, deixando-me culpada quando os tinha de reprovar. Em tudo isso, estamos melancolicamente atrasados. Dizem que nossa economia floresce, mas a cultura, senhores, que inclui a educação (ou vice-versa, como queiram...), anda mirrada e murcha. Mais uma vez, corrigir isso pode ser muito simples. Basta vontade real. Infelizmente, isso depende dos políticos, depende dos governos. Depende de cada um de nós, que os escolhemos e sustentamos.
(Lya Luft. Veja. 23 de maio de 2007. Adaptado)
O sentido da palavra destacada está devidamente traduzido em:
a)
''hipócrita'' (1º§) - bobo |
b)
''benevolente'' (3º§) - benéfica |
c)
''inócuas'' (7º§) - frequentes |
d)
''desalento'' (7º§) - desânimo |
e)
''em voga'' (5º§) - pouco usado |
Explícita ou implicitamente, as ideias a seguir estão presentes no texto, EXCETO:
a)
O aprendizado do nosso idioma deve preceder o aprendizado de outras línguas. |
b)
Péssimas condições na rede física das escolas causam menos mal do que uma educação permissiva, que não impõe limites. |
c)
O sucesso da educação depende sobretudo dos políticos. |
d)
A introdução de computadores nas escolas não é fator decisivo para o sucesso na educação. |
e)
O despreparo dos jovens que recebia na faculdade contribuiu para que a autora abandonasse a profissão de professora universitária. |
NÃO seria mantido o sentido original do texto se substituíssemos ''Meu desgosto pela profissão - que depois abandonei, embora gostasse do contato com os alunos - deveu-se em parte à minha dificuldade de me enquadrar...'' (7º§) por:
a)
Meu desgosto pela profissão a qual depois abandonei, embora gostasse do contato com os alunos provocou em parte a minha dificuldade de me enquadrar. |
b)
Meu desgosto pela profissão que depois abandonei, apesar de gostar do contato com os alunos foi, em parte, resultado da minha dificuldade de me adaptar. |
c)
Meu desgosto pela profissão que depois abandonei, mesmo gostando do contato com os alunos deveu-se parcialmente à minha dificuldade de me enquadrar. |
d)
Meu desgosto pela profissão que posteriormente abandonei, embora gostasse do contato com os alunos deveu- se parcialmente à minha dificuldade de me enquadrar. |
e)
Meu desgosto pela profissão que abandonei posteriormente, embora gostasse do contato com os alunos foi, em parte, resultado da minha dificuldade de me enquadrar. |
"Universitários, portanto, incapazes de ter um pensamento independente e de aprender qualquer matéria, sem sequer saber se conduzir. Profissionais competindo por trabalho, inseguros e atordoados, logo, frustrados." (6º§)
De acordo com os termos destacados anteriormente, assinale a alternativa correta:
a)
Somente o primeiro tem valor explicativo. |
b)
Os dois têm valor conclusivo. |
c)
Os dois possuem valor explicativo. |
d)
Somente o segundo tem valor conclusivo. |
e)
Somente o segundo tem valor explicativo. |
Os termos destacados a seguir constituem elementos coesivos por retomarem termos ou ideias anteriormente registrados, EXCETO:
a)
''Começa em casa, onde precisam ser dadas as primeiras informações sobre o mundo..." (1º§) |
b)
"... na qual vemos políticos concedendo-se um bom aumento em cima dos seus já polpudos ganhos,..." (1º§) |
c)
"... que depois abandonei,..." (7º§) |
d)
"Dizem que nossa economia floresce,..." (8º§) |
e)
"Infelizmente, isso depende dos políticos,"... (8º§) |
A análise dos elementos destacados está INCORRETA em:
a)
"... onde precisam ser dadas as primeiras informações sobre o mundo..." (1º§) objeto direto |
b)
''...de que seus atos repercutem,...'' (1º§) oração subordinada substantiva completiva nominal |
c)
''Mais uma vez, corrigir isso pode ser muito simples.'' (8º§) objeto direto |
d)
''Já nos anos 70 recebíamos na universidade jovens...'' (7º§) objeto direto |
e)
''... que nossa economia floresce,...'' (8º§) oração subordinada substantiva objetiva direta |
No trecho "... que independe de computadores:'' (3º§), a expressão em destaque exerce a mesma função sintática que a expressão sublinhada em:
a)
"Não sou contra colocarem um computador em cada sala de aula neste reino das utopias,...'' (3º§) |
b)
''A educação benevolente e frouxa que hoje predomina nas casas e escolas...'' (3º§) |
c)
''Sair do primeiro grau tendo alguma consciência de si...'' (4º§) |
d)
''Fui por dez anos titular de linguística em uma faculdade particular.'' (7º§) |
e)
''... e em parte ao desalento.'' (7º§) |
Em ''...saibamos ensinar aos alunos o mais elementar,...'' (3º§), o verbo destacado é:
a)
Transitivo direto. |
b)
Transitivo indireto. |
c)
Intransitivo. |
d)
De ligação. |
e)
Transitivo direto e indireto. |
Marque V para as afirmativas verdadeiras e F para as falsas:
( ) Em ''... enquanto professores recebem salários escrachadamente humilhantes,...'' (1º§), a expressão destacada indica tempo.
( ) Em ''Dizem que nossa economia floresce,...''(8º§), a autora faz uso da linguagem conotativa.
( ) Em ''só terão valor se o aluno souber raciocinar, avaliar, escolher e se comunicar dentro dos limites de sua idade.'' (4º§), os termos destacados indicam condição.
( ) A eliminação das vírgulas altera o sentido do trecho: ''No segundo grau, que encaminha para a universidade ou para algum curso técnico superior, o leque de conhecimentos deve aumentar.''(5º§)
( ) Em ''... mas a cultura, senhores, que inclui a educação...'' (8º§), o uso da vírgula é facultativo.
A sequência está correta em:
a)
F, V, V, F, F |
b)
V, V, V, F, F |
c)
V, V, F, V, F |
d)
F, F, V, F, F |
e)
F, V, F, V, F |
Analise as afirmativas:
I. Em ''... desde que, muito mais e acima disso, saibamos ensinar aos alunos o mais elementar,...'' (3º§), a expressão destacada indica condição.
II. A coerência, o sentido original do texto e a correção gramatical serão mantidos caso se substitua ''... portanto incapazes de assimilar e discutir teorias.'' (7º§) por ''portanto incapazes de assimilar teorias e discuti-las.''
III. A forma verbal ''queira'' (1º§) foi empregada no presente do indicativo, porque a forma verbal anterior a ela também está no presente.
IV. O trecho ''... como se preparam crianças e adolescentes...'' (2º§) equivale a ''... como crianças e adolescentes são preparados...''
Está(ão) correta(s) apenas a(s) alternativa(s):
a)
I, II, III |
b)
I, II, IV |
c)
II, III |
d)
III, IV |
e)
IV |
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