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Informações da Prova Questões por Disciplina TRT - 17.ª Região - Analista Judiciário - Apoio Técnico-Especializado - Biblioteconomia - CESPE - UnB - 2009 - Prova Objetiva

Língua Portuguesa

Resistindo ao Choque.

1  Cult — O que significa exatamente “capitalismo
desastre”?
Naomi Klein — Veja o que aconteceu após o furacão
4  Katrina, exemplo clássico do capitalismo do desastre. Não
considero o Katrina um desastre “natural” porque envolveu
uma clara omissão do Estado — no sentido de que as
7  barragens estavam deterioradas. Imediatamente depois do
ocorrido, um político republicano, Richard Baker, disse “não
pudemos limpar os projetos de conjuntos habitacionais, mas
10  Deus fez isso por nós”. Isso é o capitalismo do desastre!
É uma ideia muito velha, que já existia na mentalidade
colonial. Na América do Norte, os colonos que ocuparam a
13  Nova Inglaterra tinham uma teoria religiosa sobre a varíola,
pois a causa principal de mortalidade dos índios era a
doença. Nos diários da época, falava-se da moléstia como
16  uma dádiva de Deus. De diversas maneiras, estavam usando
a mesma formulação que o político republicano. Quando a
varíola acabou com diversas comunidades dos iroquois e a
19  terra deles foi invadida pelos colonos, Deus foi invocado, e
o desastre foi visto como um ato divino. Então, sim, isso não
é novidade. Mas, o que há de novo aqui, e que vimos em
22  Nova Orleans, é que não apenas o desastre foi utilizado para
a privatização do sistema educacional e habitacional, mas
a resposta ao próprio desastre foi vista como oportunidade
25  de mercado. E essa é realmente a última fronteira para
o neoliberalismo. Todas as partes do estado foram
privatizadas: estradas, eletricidade, telefone, água. Haviam
28  sobrado apenas as funções fundamentais: os militares, a
polícia, os bombeiros. Mas agora estamos assistindo ao
surgimento de um complexo do capitalismo do desastre:
31  negócios que dependem diretamente desse conjunto de crises
e desastres.

Naomi Klein. Resistindo ao choque. In: Cult – Revista Brasileira de Cultura.

São Paulo: Bregantini, n./125, jun./2008, p. 10 (com adaptações).

Com relação aos sentidos e às estruturas do texto acima, que é parte de uma entrevista de Naomi Klein à revista Cult, julgue o(s) item(ns) a seguir:

1 -

A entrevistada considera o furacão Katrina um exemplo clássico do capitalismo do desastre, porque sua ocorrência está relacionada à omissão do Estado.

Certa.
Errada.
2 -

Para a entrevistada, o capitalismo do desastre promove, além da privatização de bens públicos, a criação de um mercado que se alimenta dos desastres e das crises do próprio sistema.

Certa.
Errada.
3 -

O trecho “Veja o que aconteceu” (L.3) é exemplo de um dos elementos característicos de entrevistas: o recurso de o interlocutor dirigir a mensagem diretamente ao seu receptor.

Certa.
Errada.
4 -

A grafia diferenciada de “Estado” (L.6) e “estado” (L.26) indica a diferença de sentido entre as palavras no texto, as quais remetem, respectivamente, ao ente que governa e à concreta unidade da federação: Nova Orleans.

Certa.
Errada.
5 -

Segundo a entrevistada, a fala do político republicano - trecho entre aspas nas linhas de 8 a 10 - e o discurso dos diários da colonização norte-americana, em nome de interesses econômicos, naturalizam e justificam desastres como o furacão e a dizimação da população provocada pela varíola, ao considerá-los obras divinas.

Certa.
Errada.

Um Ensaio Sobre Inércia Social.

1  No novo mundo e em especial no Brasil, onde a
escravidão foi particularmente cruenta e predatória, o senhor
podia tomar qualquer decisão quanto à vida de seu escravo,
4  conforme seu arbítrio. Se considerasse que um escravo o
ameaçava, podia mandar cortar seus pés, cegá-lo, supliciá-lo
com chibatadas ou matá-lo. A relação senhor/escravo não era
7  um pacto: o senhor não estava obrigado a preservar a vida de
seu escravo individual; muito ao contrário, sua liberdade de
tirar a vida daquele que coisificara definia sua posição de
10  senhor, tanto mais quanto o fluxo de escravos no mercado
lhe permitia repor o plantel sem maiores restrições.
A escravidão longeva acabou por abstrair o rosto do escravo,
13  despersonalizando-o e coisificando-o de maneira reiterada
e permanente. Ao final, restava apenas a sua cor,
definitivamente associada ao trabalho pesado e degradante.
16  A imagem do trabalho e do trabalhador consolidada ao
longo da escravidão fez-se, portanto, da sobreposição
de hierarquias sociais de cor, de status social associado
19  à propriedade e de dominação material e simbólica, em uma
mescla de sentidos que convergiram para a percepção do
trabalho manual como algo degradado. Dizendo-o de modo
22  mais enfático, a ética do trabalho oriunda da escravidão foi
uma ética de desvalorização do trabalho, e seu resgate do
ressaibo da impureza e da degradação levaria ainda muitas
25  décadas. Esse quadro de inércia estrutural configurou o
ambiente em que se teceu a sociabilidade capitalista no país.

Adalberto Cardoso. Escravidão e sociabilidade capitalista: um ensaio sobre inércia social.

In: Novos estudos CEBRAP. São Paulo: UNESP, n./80, mar./ 2008, p. 25 (com adaptações).

Acerca dos sentidos e das estruturas linguísticas do texto acima, julgue o(s) item(ns) que se segue(m):

6 -

De acordo com o texto, a dominação imposta pela escravidão foi simbólica, pois, desvinculada das condições materiais da produção escravista, atribuiu um sentido degradante ao trabalho escravo.

Certa.
Errada.
7 -

Nas linhas 1 e 2, as vírgulas são empregadas para isolar oração intercalada que destaca a especificidade da escravidão no Brasil.

Certa.
Errada.
8 -

A significação do vocábulo “coisificara” (L.9) remete ao processo de despersonalização do negro transformado em mercadoria pela escravidão.

Certa.
Errada.
9 -

A expressão “tanto mais quanto” (L.10) indica a relação de proporcionalidade entre a liberdade do senhor de dispor da vida de seu escravo e o alto fluxo de escravos no mercado.

Certa.
Errada.
10 -

Considerando-se o contexto da escravidão abordado no texto, a expressão “à propriedade” (L.19) poderia ser substituída por ao imóvel, uma vez que o substantivo “propriedade” refere-se às terras, um bem fixo dos grandes proprietários rurais.

Certa.
Errada.

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