Toda fotografia é um portal aberto para outra dimensão: o passado. A câmara fotográfica é uma verdadeira máquina do tempo, transformando o que é naquilo que já não é mais, porque o que temos diante dos olhos é transmudado imediatamente em passado no momento do clique. Costumamos dizer que a fotografia congela o tempo, preservando um momento passageiro para toda a eternidade, e isso não deixa de ser verdade. Todavia, existe algo que descongela essa imagem: nosso olhar. Em francês, imagem e magia contêm as mesmas cinco letras: image e magie. Toda imagem é magia, e nosso olhar é a varinha de condão que descongela o instante aprisionado nas geleiras eternas do tempo fotográfico.
Toda fotografia é uma espécie de espelho da Alice do País das Maravilhas, e cada pessoa que mergulha nesse espelho de papel sai numa dimensão diferente e vivencia experiências diversas, pois o lado de lá é como o albergue espanhol do ditado: cada um só encontra nele o que trouxe consigo. Além disso, o significado de uma imagem muda com o passar do tempo, até para o mesmo observador.
Variam, também, os níveis de percepção de uma fotografia. Isso ocorre, na verdade, com todas as artes: um músico, por exemplo, é capaz de perceber dimensões sonoras inteiramente insuspeitas para os leigos. Da mesma forma, um fotógrafo profissional lê as imagens fotográficas de modo diferente daqueles que desconhecem a sintaxe da fotografia, a “escrita da luz”. Mas é difícil imaginar alguém que seja insensível à magia de uma foto.
(Adaptado de Pedro Vasquez, em Por trás daquela foto. São Paulo: Companhia das Letras, 2010)
O segmento do texto que ressalta a ação mesma da percepção de uma foto é:
a)
A câmara fotográfica é uma verdadeira máquina do tempo. |
b)
a fotografia congela o tempo. |
c)
nosso olhar é a varinha de condão que descongela o instante aprisionado. |
d)
o significado de uma imagem muda com o passar do tempo. |
e)
Mas é difícil imaginar alguém que seja insensível à magia de uma foto. |
No contexto do último parágrafo, a referência aos vários níveis de percepção de uma fotografia remete
a)
à diversidade das qualidades intrínsecas de uma foto. |
b)
às diferenças de qualificação do olhar dos observadores. |
c)
aos graus de insensibilidade de alguns diante de uma foto. |
d)
às relações que a fotografia mantém com as outras artes. |
e)
aos vários tempos que cada fotografia representa em si mesma. |
Atente para as seguintes afirmações:
I. Ao dizer, no primeiro parágrafo, que a fotografia congela o tempo, o autor defende a ideia de que a realidade apreendida numa foto já não pertence a tempo algum.
II. No segundo parágrafo, a menção ao ditado sobre o albergue espanhol tem por finalidade sugerir que o olhar do observador não interfere no sentido próprio e particular de uma foto.
III. Um fotógrafo profissional, conforme sugere o terceiro parágrafo, vê não apenas uma foto, mas os recursos de uma linguagem específica nela fixados.
Em relação ao texto, está correto o que se afirma SOMENTE em
a)
I e II. |
b)
II e III. |
c)
I. |
d)
II. |
e)
III. |
No contexto do primeiro parágrafo, o segmento Todavia, existe algo que descongela essa imagem pode ser substituído, sem prejuízo para a correção e a coerência do texto, por:
a)
Tendo isso em vista, há que se descongelar essa imagem. |
b)
Ainda assim, há mais que uma imagem descongelada. |
c)
Apesar de tudo, essa imagem descongela algo. |
d)
Há, não obstante, o que faz essa imagem descongelar. |
e)
Há algo, outrossim, que essa imagem descongelará. |
O verbo indicado entre parênteses deverá ser flexionado no plural para preencher corretamente a lacuna da frase:
a)
Nem todos discriminam, numa foto, os predicados mágicos que a ela se ...... (atribuir) nesse texto. |
b)
Os tempos que ...... (documentar) uma simples foto, aparentemente congelada, são complexos e estimulantes. |
c)
A associação entre músicos e fotógrafos profissionais ...... (remeter) às especificidades de cada tipo de sintaxe. |
d)
A poucos ...... (costumar) ocorrer que as fotografias podem enfeixar admiráveis atributos estéticos, como obras de arte que são. |
e)
Imaginem-se os sustos que não ...... (ter) causado aos nativos de tribos remotas a visão de seus rostos fotografados! |
Existe transposição de uma voz verbal para outra em:
a)
Variam os níveis de percepção de uma fotografia = São vários os níveis de percepção de uma fotografia. |
b)
As fotografias são uma espécie de espelhos = As fotografias tornam-se uma espécie de espelhos. |
c)
A percepção de uma imagem muda com o passar do tempo = O passar do tempo muda a percepção de uma imagem. |
d)
Os olhares hão de descongelar cada imagem = Cada imagem há de ser descongelada pelos olhares. |
e)
Certas fotos se assemelham a espelhos = Há espelhos aos quais certas fotos se tornam semelhantes. |
Está clara e correta a redação deste livre comentário sobre o texto:
a)
Apesar de se ombrearem com outras artes plásticas, a fotografia nos faz desfrutar e viver experiências de natureza igualmente temporal. |
b)
Na superfície espacial de uma fotografia, nem se imagine os tempos a que suscitarão essa imagem aparentemente congelada... |
c)
Conquanto seja o registro de um determinado espaço, uma foto leva-nos a viver profundas experiências de caráter temporal. |
d)
Tal como ocorrem nos espelhos da Alice, as experiências físicas de uma fotografia podem se inocular em planos temporais. |
e)
Nenhuma imagem fotográfica é congelada suficientemente para abrir mão de implicâncias semânticas no plano temporal. |
Está plenamente adequada a pontuação da seguinte frase:
a)
As fotografias, por prosaicas que possam ser, representam um corte temporal, brecha no tempo por onde entra nosso olhar, capturado que foi pela magia da imagem e por ela instado a uma viagem imaginária. |
b)
As fotografias, por prosaicas que possam ser representam um corte temporal; brecha no tempo, por onde entra nosso olhar capturado, que foi pela magia da imagem, e por ela instado a uma viagem imaginária. |
c)
As fotografias por prosaicas, que possam ser, representam um corte temporal: brecha no tempo por onde entra nosso olhar, capturado que foi, pela magia da imagem, e por ela instado a uma viagem imaginária. |
d)
As fotografias por prosaicas, que possam ser representam, um corte temporal, brecha no tempo por onde entra nosso olhar capturado, que foi pela magia da imagem e por ela instado a uma viagem imaginária. |
e)
As fotografias por prosaicas que possam ser, representam um corte temporal, brecha no tempo por onde entra nosso olhar, capturado, que foi pela magia da imagem e, por ela, instado a uma viagem imaginária. |
Os dicionários não são úteis apenas para esclarecer o sentido de um vocábulo; ajudam, com frequência, a iluminar teses controvertidas e mesmo a incendiar debates. Vamos ao Dicionário Houaiss, ao verbete discriminar, e lá encontramos, entre outras, estas duas acepções: a) perceber diferenças; distinguir, discernir; b) tratar mal ou de modo injusto, desigual, um indivíduo ou grupo de indivíduos, em razão de alguma característica pessoal, cor da pele, classe social, convicções etc.
Na primeira acepção, discriminar é dar atenção às diferenças, supõe um preciso discernimento; o termo transpira o sentido positivo de quem reconhece e considera o estatuto do que é diferente. Discriminar o certo do errado é o primeiro passo no caminho da ética. Já na segunda acepção, discriminar é deixar agir o preconceito, é disseminar o juízo preconcebido. Discriminar alguém: fazê-lo objeto de nossa intolerância.
Diz-se que tratar igualmente os desiguais é perpetuar a desigualdade. Nesse caso, deixar de discriminar (no sentido de discernir) é permitir que uma discriminação continue (no sentido de preconceito). Estamos vivendo uma época em que a bandeira da discriminação se apresenta em seu sentido mais positivo: trata-se de aplicar políticas afirmativas para promover aqueles que vêm sofrendo discriminações históricas. Mas há, por outro lado, quem veja nessas propostas afirmativas a forma mais censurável de discriminação... É o caso das cotas especiais para vagas numa universidade ou numa empresa: é uma discriminação, cujo sentido positivo ou negativo depende da convicção de quem a avalia. As acepções são inconciliáveis, mas estão no mesmo verbete do dicionário e se mostram vivas na mesma sociedade.
(Aníbal Lucchesi, inédito)
A afirmação de que os dicionários podem ajudar a incendiar debates confirma-se, no texto, pelo fato de que o verbete discriminar
a)
padece de um sentido vago e impreciso, gerando por isso inúmeras controvérsias entre os usuários. |
b)
apresenta um sentido secundário, variante de seu sentido principal, que não é reconhecido por todos. |
c)
abona tanto o sentido legítimo como o ilegítimo que se costuma atribuir a esse vocábulo. |
d)
faz pensar nas dificuldades que existem quando se trata de determinar a origem de um vocábulo. |
e)
desdobra-se em acepções contraditórias que correspondem a convicções incompatíveis. |
Diz-se que tratar igualmente os desiguais é perpetuar a desigualdade.
Da afirmação acima é coerente deduzir esta outra:
a)
Os homens são desiguais porque foram tratados com o mesmo critério de igualdade. |
b)
A igualdade só é alcançável se abolida a fixação de um mesmo critério para casos muito diferentes. |
c)
Quando todos os desiguais são tratados desigualmente, a desigualdade definitiva torna-se aceitável. |
d)
Uma forma de perpetuar a igualdade está em sempre tratar os iguais como se fossem desiguais. |
e)
Critérios diferentes implicam desigualdades tais que os injustiçados são sempre os mesmos. |
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