Considerando que nosso futuro será, em grande parte, determinado por nossa atitude perante a questão nuclear, é bom nos perguntarmos como chegamos até aqui, com o poder de destruir a civilização. O que isso nos diz sobre quem somos como espécie?
Nossa aniquilação é inevitável ou será que seremos capazes de garantir nossa sobrevivência mesmo tendo em mãos armas de destruição em massa? Infelizmente, armas nucleares são monstros que jamais desaparecerão. Nenhuma descoberta científica “desaparece”. Uma vez revelada, permanece viva, mesmo se condenada como imoral por uma maioria. O pacto que acabamos por realizar com o poder tem um preço muito alto. É irreversível. Não podemos mais contemplar um mundo sem armas nucleares. Sendo assim, será que podemos contemplar um mundo com um futuro?
O medo e a ganância – uma combinação letal – trouxeram- nos até aqui. Por milhares de anos, cientistas e engenheiros serviram o Estado em troca de dinheiro e proteção. Cercamo- nos de inimigos reais ou virtuais e precisamos proteger nosso país e nossos lares a qualquer preço. O patriotismo é o maior responsável pela guerra. Não é à toa que Einstein queria ver as fronteiras abolidas.
Olhamos para o Brasil, os Estados Unidos e a Comunidade Europeia, onde fronteiras são cada vez mais invisíveis, e temos evidência empírica de que a união de Estados sem fronteiras leva à estabilidade e à sobrevivência. A menos que as coisas mudem profundamente, é difícil ver essa estabilidade ameaçada. Será, então, que a solução – admito, extremamente remota – é um mundo sem fronteiras, uma sociedade de fato globalizada e economicamente integrada? Ou será que existe outro modo de garantir nossa sobrevivência a longo prazo com mísseis e armas nucleares apontando uns para os outros, prontos a serem detonados? O que você diz?
(Adaptado de Marcelo Gleiser, Folha de S. Paulo, 18/04/2010)
Entre as razões que podem sustentar uma posição pessimista, no que toca ao futuro de uma civilização com o poder de se destruir, estão:
a)
a globalização político-econômica e o aferrado sentimento patriótico. |
b)
a inevitabilidade de uma detonação nuclear e o protecionismo econômico. |
c)
a permanência inexorável das armas nucleares e a exacerbação do patriotismo. |
d)
a desintegração econômica dos Estados e o desejo de se abolirem as fronteiras. |
e)
o pacto com o poder a qualquer preço e a iminência de uma globalização econômica. |
Atente para as seguintes afirmações:
I. Diante da questão das fronteiras entre os Estados, a posição do autor do texto e a de Einstein, uma vez confrontadas, acusam uma séria divergência.
II. A indagação anterior a O que você diz? é um exemplo de pergunta retórica.
III. O autor não isenta cientistas e engenheiros da responsabilidade pelas consequências do emprego do poder nuclear, mas não os vincula às razões de Estado.
Em relação ao texto, está correto APENAS o que se afirma em:
a)
I. |
b)
II. |
c)
III. |
d)
I e II. |
e)
II e III. |
Ao considerar que Nenhuma descoberta científica “desaparece”, o autor sugere que:
a)
as evidências do progresso da ciência são tantas que não temos razões para colocá-lo em questão. |
b)
nada se extingue no campo da ciência porque tudo obedece ao princípio básico da transformação. |
c)
os cientistas têm razões éticas para alterar o rumo de descobertas que lhes pareçam nocivas. |
d)
a ciência implica acumulação e preservação, e não o descarte das suas descobertas. |
e)
a ciência, em seu processo de desenvolvimento, é imune à ingerência do poder político. |
Nossa aniquilação é inevitável ou será que seremos capazes de garantir nossa sobrevivência mesmo tendo em mãos armas de destruição em massa?
Na frase acima
a)
mesmo as tendo em mãos é correta alternativa de construção, com emprego pronominal. |
b)
o termo ou expressa uma alternância repetitiva. |
c)
o segmento mesmo tendo pode ser corretamente substituído por desde que tenhamos. |
d)
ou será que a seremos capazes de garantir é correta alternativa de construção, com emprego pronominal. |
e)
o segmento Nossa aniquilação é inevitável pode ser substituído pelo equivalente nossa conflagração é irredutível. |
Está adequada a concordância verbal nesta construção:
a)
nem negligência, nem incúria: a combinação letal do medo e da ganância trouxeram-nos até aqui. |
b)
dizem muito, sobre nós e nossa espécie, o que nos fez chegar até aqui? |
c)
diante do inimigo, real ou virtual, lançam-se mão dos recursos nucleares. |
d)
são cada vez mais difíceis considerar como permanentes as fronteiras entre os Estados. |
e)
repousa nas providências que levem a Estados sem fronteiras a expectativa de que sobrevivamos. |
Está INADEQUADA a correlação entre os tempos e modos verbais nesta reconstrução de uma frase do texto:
a)
Cercar-nos-íamos de inimigos reais ou virtuais e precisaríamos proteger nosso país. |
b)
O pacto que acabássemos por realizar com o poder teria um preço muito alto. |
c)
A menos que as coisas venham a mudar profundamente, será difícil ver essa estabilidade ameaçada. |
d)
Tivesse sido assim, será que possamos contemplar um mundo com futuro? |
e)
Teria sido bom se nos houvéssemos perguntado como chegamos até aqui. |
Está clara e correta a redação deste livre comentário sobre o texto:
a)
Não adiantam nem o otimismo nem o pessimismo: o que urge é tomarmos providências no sentido de se dirimir nossa divisão em países com fronteiras. |
b)
Uma das denúncias do texto constitue de fato um alerta: que não se tome como reversível qualquer conquista a que a ciência chegue a alcançar. |
c)
Para Albert Einstein, uma medida radical e responsável para se evitar a calamidade de uma guerra nuclear seria, pura e simplesmente, a abolição das fronteiras. |
d)
Conquanto não tenham em vista essa mesma finalidade, muitos cientistas e engenheiros acabam servindo aos artifícios excusos de quem lucra com a ganância. |
e)
Quanto mais os estados consigam se unir a despeito das fronteiras, assim também haverá a evidência empírica de que sejam levados à estabilidade e à sobrevivência. |
Indica-se uma construção com sentido equivalente ao de um segmento do texto em:
a)
Não é à toa que Einstein queria ver as fronteiras abolidas // Com toda a razão, Einstein desejava ver abolidas as fronteiras. |
b)
Será, então, que a solução – admito, extremamente remota – é um mundo sem fronteiras (...) ? // A solução, pois, advirá – digamos que a longo prazo – de um mundo não demarcado? |
c)
O medo e a ganância – uma combinação letal – trouxeram-nos até aqui // Por uma combinação mortal, aportamos no medo e na ganância. |
d)
Uma vez revelada, permanece viva, mesmo se condenada como imoral por uma maioria // Conquanto revelada, resta viva, embora acusada de imoral pela maioria. |
e)
O pacto que acabamos por realizar com o poder tem um preço muito alto // O que já terminamos de pactuar com o poder tem custo muito alto. |
Os pensadores da antiguidade clássica deixaram-nos um tesouro nem sempre avaliado em sua justa riqueza. O filósofo Sêneca, por exemplo, mestre da corrente estoica, legou-nos uma série preciosa de reflexões sobre a tranquilidade da alma – este é o título da tradução para o português. É ler o livrinho com calma e aprender muito. Reproduzo aqui três fragmentos, para incitar o leitor a ir atrás de todo o restante.
I. Quem temer a morte nunca fará nada em prol dos vivos; mas aquele que tomar consciência de que sua sorte foi estabelecida já na sua concepção viverá de acordo com a natureza, e saberá que nada do que lhe suceda seja imprevisto. Pois, prevendo tudo quanto possa de fato vir a suceder, atenuará o impacto de todos males, que são fardos somente para os que se creem seguros e vivem na expectativa da felicidade absoluta.
II. Algumas pessoas vagam sem propósito, buscando não as ocupações a que se propuseram, mas entregando-se àquelas com que deparam ao acaso. A caminhada lhes é irrefletida e vã, como a das formigas que trepam nas árvores e, depois de subir ao mais alto topo, descem vazias à terra.
III. Nossos desejos não devem ser levados muito longe; permitamos-lhes apenas sair para as proximidades, porque não podem ser totalmente reprimidos. Abandonando aquilo que não pode acontecer ou dificilmente pode, sigamos as coisas próximas que favorecem nossa esperança (...). E não invejemos os que estão mais alto: o que parece altura é precipício.
São princípios do estoicismo: aprender a viver sabendo da morte; não se curvar ao acaso, mas definir objetivos; viver com a consciência dos próprios limites. Nenhum deles é fácil de seguir, nem Sêneca jamais acreditou que seja fácil viver. Mas a sabedoria dos estoicos, que sabem valorizar o que muitos só sabem temer, continua viva, dois mil anos depois.
(Belarmino Serra, inédito)
No primeiro e no último parágrafos, o autor do texto busca, respectivamente:
a)
particularizar a contribuição de Sêneca e resumir teses de outros filósofos da mesma época. |
b)
apresentar linhas gerais do pensamento estoico e resumir três teses de Sêneca. |
c)
valorizar a atualidade da filosofia estoica e ressaltar os aspectos místicos dessa doutrina. |
d)
destacar a contribuição do pensamento de Sêneca e enunciar alguns fundamentos estoicos. |
e)
contextualizar os filósofos estoicos e repropor teses que derivam dessa filosofia. |
Atente para as seguintes afirmações:
I. No fragmento I, Sêneca vê como injustificável e inconsequente nosso medo de morrer, pois isso nos leva a não confiar nas surpresas positivas da vida.
II. No fragmento II, Sêneca vale-se do exemplo das formigas para ilustrar o malogrado esforço de quem busca reconhecimento para suas virtudes.
III. No fragmento III, Sêneca lembra que a esperança humana deve estar associada a desejos que não extrapolem nossas possibilidades.
Está correto APENAS o que se afirma em:
a)
I. |
b)
II. |
c)
III. |
d)
I e II. |
e)
II e III. |
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