1 Em tempos de linguagem virtual, com a predominância da informática como espinha dorsal da comunicação humana, questiona-se o futuro da palavra escrita que começou a ser impressa na pedra das cavernas, passou pelos blocos de argila, pela pele dos animais e pelo caule dos papiros até ganhar mobilidade e universalidade com o papel dos chineses e com os tipos móveis de Gutenberg. 2 A tecnologia, somando todos os ancestrais da linguagem, já caminha para a voz humana que, além de servir de base para a comunicação oral, em breve será virtualizada e comandará os computadores e todas as operações digitalizadas. E já garantem que esse comando em breve será feito sem necessidade da voz, bastando o pensamento, que será informatizado e acionará o universo eletrônico, que está cada vez mais próximo. 3 Pensaremos uma pergunta e sensores digitalizados a transmitirão ao destinatário, que a receberá quase esotericamente – “sensoriamente”, na extensão da palavra. Pensará na resposta que será enviada pelo mesmo caminho. Exemplo de uma pergunta: “Você quer ser minha”? Uma resposta provável: ”Quero”. Isso tudo (e que tudo maravilhoso) sem a necessidade de palavras e de voz. Os ufólogos afirmam que é mais ou menos assim que os seres extraterrestres se comunicam. Talvez eu não viva o bastante para chegar a essa instantaneidade. Mesmo assim, deixo a pergunta ortodoxamente impressa. E fico à espera da resposta adiantando que, provisoriamente, qualquer meio serve. 4 Apesar do avanço tecnológico, sempre haverá uma dúvida sobre a eficiência e a durabilidade da comunicação virtual. A sociedade ainda exigirá, por muito tempo, a grafia impressa, o chamado preto no branco. Teremos de ir à Polícia Federal para assinar o passaporte, aos tabeliões para assinar os testamentos e escrituras etc.etc. 5 Contudo, a linguagem literária, feita de letras e símbolos gráficos tradicionais, deverá continuar ainda que marginal à linguagem oficial, que será virtualizada. Assim como a fotografia não aboliu o desenho, o retrato ou a paisagem pintada, a palavra impressa continuará como poderoso elemento da comunicação humana. 6 Daí que Pilatos mandou colocar na cruz do Calvário um ancestral do outdoor moderno, indicando que ali, pregado no madeiro, estava Jesus de Nazaré, Rei dos Judeus, cartaz que os pintores da Renascença reduziram para iniciais “INRI”. Os judeus não gostaram. Então, aquilo, um corpo esquálido e mortificado, vencido pela morte, seria o rei deles? Pilatos respondeu: “O que escrevi está escrito”. “Em latim: Quod crise scripsi”. 7 Pulando do Calvário para as esquinas das nossas cidades, a frase de Pilatos foi adotada pelos banqueiros do jogo do bicho. Eles imprimem nos talões que guardam a fé dos apostadores: “Vale o escrito”. É a força da palavra impressa que jamais passará. 8 “Passará o céu e a terra” - disse o mesmo Jesus, antes de ser colocado na cruz -, “mas as minhas palavras não passarão” Muita gente condena gramaticalmente a frase, achando que o Mestre dos Mestres deveria ter dito “passarão o céu e a terra”. Não sei, não lembro mais, mas parece que Vieira tem um comentário a respeito disso. 9 De qualquer forma, ficarão valendo por muito tempo, ainda, e talvez para sempre, aquele ditado segundo o qual as palavras voam e a escrita permanece. Citando mais uma vez em latim: “Verba Volent, script manent”. 10 Há também o ditado que não é latino, mas vernáculo mesmo: “Escreveu não leu, o pau comeu”. E temos a expressão que todos usamos quando queremos afirmar alguma coisa de forma peremptória: “Assino em baixo”. Num dos capítulos mais importantes e bonitos de “Ulisses”, Joyce fala na “assinatura de todas as coisas”. 11 Ao tempo de Pilatos e de James Joyce, a linguagem virtual estava longe. Mas, além da realidade física, da palavra impressa, ela servia de símbolo da identidade e da perenidade da comunicação entre os seres humanos. 12 Mas os homens, segundo Iago, são homens. Sempre dão um jeito de melar as coisas, até mesmo aquilo que escrevem. Muitos escrevem e depois negam o que escreveram, dizendo que nunca escreveram aquilo, alegando que a escrita é apócrifa, forjada por adversários. Um recurso primário por sinal. 13 Outros são mais sofisticados. Escrevem e, na impossibilidade de negar o que escreveram, pedem que esqueçam o que escreveram. Pilatos podia ter partido para essa pedindo aos judeus que esquecessem a frase que ele mandou botar em cima da cruz do Calvário. Também os bicheiros poderiam alegar que o apostador não apostou naquele milhar ou naquela centena. Que esquecessem o talão. 14 Mas tanto Pilatos como os bicheiros, por motivos diferentes, assumiram o que escreveram. O primeiro reafirmou que aquilo que escreveu está escrito. Os segundos garantem que vale o escrito. 15 No limiar da era virtual, com o advento da linguagem digitalizada, o processo da comunicação será sempre alterado. Mas o caráter bom ou mau do ser humano será o mesmo.
(CONY, Carlos Heitor, Jornal Folha de São Paulo. Junho de 2007. p. 16)
Infere-se do texto que a linguagem representa
a)
um paradoxo, pois ao mesmo tempo em que ela avança, há um propósito de descrédito na evolução. |
b)
o esoterismo, uma vez que transcende o real. |
c)
os contatos imediatos com um mundo invisível, já que ela se assemelha à comunicação dos extraterrestres. |
d)
um avanço, que estará sempre perdendo o referencial com o passado da palavra impressa. |
Dentre os argumentos a seguir, apenas UM não é apresentado, no texto, como contrário ao avanço tecnológico. ASSINALE-O.
a)
|
b)
|
c)
|
d)
|
Assinale a opção em que a mudança na ordem dos termos ALTERA sensivelmente o sentido do enunciado.
a)
A informática, como espinha dorsal da comunicação humana, predomina, em tempos de linguagem virtual. Predomina a informática, em tempos de linguagem virtual, como espinha dorsal da comunicação. |
b)
A linguagem literária deverá continuar, ainda que marginal à linguagem oficial, que será virtualizada. A linguagem literária, que será virtualizada, deverá continuar ainda que marginal à linguagem oficial. |
c)
A palavra impressa continuará como poderoso elemento da comunicação humana. Como poderoso elemento da comunicação humana, a palavra impressa continuará. |
d)
Os homens são homens, segundo Iago e sempre dão um jeito de melar as coisas, até mesmo aquilo que escrevem. Segundo Iago, os homens são homens e dão um jeito de sempre melar as coisas, inclusive aquilo que escrevem. |
Assinale a opção em que os adjetivos destacados NÃO possuem basicamente o mesmo significado:
a)
Pensaremos uma pergunta e sensores digitalizados a transmitirão/ Pensaremos uma pergunta e sensores caligrafados a transmitirão. |
b)
Mesmo assim, deixo a pergunta ortodoxamente impressa./ Mesmo assim, deixo a pergunta ortodoxamente escrita. |
c)
Então, aquilo, um corpo esquálido e mortificado, vencido pela morte.../ Então, aquilo, um corpo cadavérico e mortificado, vencido pela morte... |
d)
Mas, além da realidade física./ Mas, além da realidade presencial. |
No 1.º § do texto, lê-se ... o futuro da palavra escrita que começou a ser impressa na pedra das cavernas, passou pelos blocos de argila, pela pele dos animais e pelo caule dos papiros, até ganhar mobilidade e universalidade com o papel dos chineses e com os tipos móveis de Gutenberg
.
O autor, na construção do 1.º §, utilizou o recurso da (o)_____________, figura que apresenta uma série de ideias em progressão ascendente.
Escolha a opção que completa CORRETAMENTE a lacuna do texto:
a)
pleonasmo. |
b)
polissíndeto. |
c)
iteração. |
d)
gradação. |
No trecho Ao tempo de Pilatos e de James Joyce, a linguagem virtual estava longe
. Mas, além da realidade física, da palavra impressa, ela servia de símbolo da identidade e da perenidade da comunicação
.
Os termos negritados acima têm, respectivamente, a equivalência de
a)
adversidade - causa - tempo. |
b)
consequência - tempo - adversidade. |
c)
tempo - adversidade - adição. |
d)
adição - adversidade - tempo. |
Observe as informações acerca do emprego dos sinais de pontuação:
I. O uso da vírgula, na primeira frase do primeiro parágrafo, é justificado pela circunstância adverbial de tempo.
II. Justificam-se as aspas na expressão o que escrevi está escrito, no 6.º §, pelo tipo de intertextualidade.
III. O uso dos travessões, no 8.º §, pode ser substituído por duas vírgulas, uma vez que tem a função de explicar o contexto da informação.
Marque a alternativa CORRETA:
(Questão anulada)
a)
Somente as informações I e II estão corretas. |
b)
As informações I, II e III estão corretas. |
c)
Somente as informações II e III estão corretas. |
d)
Somente as informações I e III estão corretas. |
Releia o fragmento do último parágrafo do texto
No limiar da era virtual, com o advento da linguagem digitalizada, o processo da comunicação será sempre alterado. Mas o caráter bom ou mau do ser humano será o mesmo.
Da leitura do fragmento, pode-se inferir que:
a)
os relacionamentos humanos serão dependentes da era digital. |
b)
a linguagem virtual dependerá sempre do caráter do homem. |
c)
o caráter do homem independe do advento da linguagem digitalizada. |
d)
o caráter humano é resultado da linguagem virtual. |
Na sequência de 1 a 4 dos quadrinhos, podem ser identificadas as seguintes características de linguagem:
I. No primeiro quadrinho, há apenas a linguagem verbal oral.
II. No segundo quadrinho, pode-se perceber apenas a linguagem não-verbal.
III. No terceiro quadrinho, o chargista apresenta uma mistura entre o verbal escrito e o não-verbal.
IV. No quarto quadrinho, há uma informação verbal escrita.
Marque a alternativa CORRETA:
a)
apenas as proposições III e IV são verdadeiras. |
b)
apenas as proposições I e II são verdadeiras. |
c)
apenas as proposições I e III são verdadeiras. |
d)
as proposições I, II, III e IV são verdadeiras. |
Leia o texto a seguir:
Texto I
Phishing Scam, para quem não está familiarizado com este nome, é uma modalidade de golpe realizado pela internet em que um programa escondido dentro do seu computador rouba senhas de banco, e-mails, cadastros, etc. Geralmente é instalado no computador porque a vítima clica em algum e-mail “isca” do tipo “Você tem pendências no Serasa, clique aqui”, ou “Alguém enviou para você um cartão virtual, clique aqui”. A pessoa clica e, em vez de ver o cartão virtual, instala sem querer o programa espião. Também é chamado por aí de “pesca-senha”.
Compare com a charge:
Texto II
Charge: internet no escritório | Ivo Viu a Uva abril 3rd, 2010 at 12:04
É CORRETO afirmar que entre os textos I e II ocorre uma relação
a)
de causa e efeito,uma vez que o texto I é causa e o II é o efeito da espionagem instalada em programas de computadores. |
b)
Intertextualizada, no nível da paródia, pois o texto II tem a função de romper com a temática do texto I. |
c)
Comparativa, porque o II texto tem a função de confirmar a realidade de programas de espionagens apresentada no texto I. |
d)
Intertextualizada, no nível da paráfrase, pois o texto II apresenta uma ideia que se assemelha com a do texto I. |
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