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Informações da Prova Questões por Disciplina TRE - São Paulo - Analista Judiciário - Apoio Técnico-Especializado - Estatística - FCC - Fundação Carlos Chagas - 2012 - Prova Objetiva

Interpretação de Textos

Fatalismo

                      De todos os persistentes horrores brasileiros, o pior,
talvez porque represente tantas coisas ao mesmo tempo, é o
horror do sistema penitenciário. Ele persiste há tanto tempo
porque, no fundo, é o retrato do que a elite brasileira pensa do
povo, e portanto nunca chega a ser um horror exatamente
insuportável. Pois se fica cada vez mais infernal, apesar de
todas as boas intenções de reformá-lo, é infernal para bandidos,
que afinal merecem o castigo.
                     A cadeia brasileira é um resumo cruel da nossa resignação
à fatalidade social. Pobre não deixará de ser pobre, e
a ideia da reabilitação, em vez do martírio exemplar do apenado,
por mais que seja proclamada como uma utopia a ser
buscada quando sobrar dinheiro, é a negação desse fatalismo
histórico. É uma ideia bonita, mas não é da nossa índole. Ou da
índole da nossa elite.
                     É impossível a gente (que vive aqui em cima, onde tem
ar) imaginar o que seja essa subcivilização que se criou dentro
dos presídios brasileiros, onde as pessoas vivem e morrem
pelas leis ferozes de uma sociedade selvagem − mas leis e
sociedade assim mesmo.
                     O que está sendo representado por essa selvageria tão
desafiadoramente organizada? Que lá dentro o país é igual ao
que é aqui fora, menos os disfarces e a hipocrisia, e que tudo
não passa de uma paródia sangrenta para nos dar vergonha?
Ou que eles são, finalmente, a classe animal sem redenção
possível que o país passou quinhentos anos formando, fez o
favor de reunir numa superlotação só para torná-la ainda mais
desumana e que agora o aterroriza?
                     Como sempre, a lição dos fatos variará de acordo com a
conveniência de cada intérprete. As rebeliões reforçam a resignação,
provando que bandido não tem jeito mesmo ou só
matando, ou condenam o fatalismo que deixou a coisa chegar a
esse ponto assustador. De qualquer jeito, soluções só quando
sobrar algum dinheiro.

(Adaptado de Luis Fernando Verissimo, O mundo é bárbaro)

1 -

A relação insistentemente estabelecida entre o conceito de fatalismo e a realidade do sistema penitenciário brasileiro está caracterizada de modo conciso nesta frase:

a)

A cadeia brasileira é um resumo cruel da nossa resignação à fatalidade social.

b)

(...) é infernal para bandidos, que afinal merecem o castigo.

c)

É uma ideia bonita, mas não é da nossa índole.

d)

O que está sendo representado por essa selvageria tão desafiadoramente organizada?

e)

É impossível a gente (...) imaginar o que seja essa subcivilização que se criou dentro dos presídios (...).

2 -

Atente para as seguintes afirmações:

I. O autor entende que a elite brasileira, ao considerar que os prisioneiros são efetivamente merecedores dos horrores do sistema penitenciário, naturaliza e justifica essa situação.

II. A situação surpreendente dos atuais presídios é um alerta para todos aqueles que vêm garantindo tão significativas conquistas no terreno da reabilitação social.

III. O autor considera a hipótese de que a realidade interna dos presídios seja vista como uma réplica desmascarada das violências que ocorrem na sociedade brasileira.

Em relação ao texto, está correto SOMENTE o que se afirma em

a)

I.

b)

II.

c)

III.

d)

I e II.

e)

I e III.

3 -

Afirmações como Pobre não deixará de ser pobre e eles são a classe animal sem redenção possível ilustram adequadamente

a)

a convicção daqueles que não acreditam que nossas camadas populares revelem alguma índole especial.

b)

os valores viciosos de uma ideologia ultraconservadora, com a qual se identifica a elite brasileira.

c)

a certeza de que qualquer solução para os horrores do nosso sistema penitenciário requererá vultosos investimentos.

d)

o fato de que todas as rebeliões de presos, independentemente de suas causas, repercutem do mesmo modo na sociedade.

e)

a expectativa, considerada pela elite, de que só com altos custos se daria fim aos horrores do nosso sistema penitenciário.

Concordância Nominal e Verbal
4 -

Estão plenamente observadas as normas de concordância verbal na frase:

a)

Dentro da elite nunca se criticou, diante da rotina do sistema penitenciário brasileiro, os horrores a que os presos são submetidos.

b)

Reserva-se ao pobre, tantas vezes identificado como potencialmente perigoso, as opções da resignação ou da marginalidade social.

c)

Sem altos investimentos não haverão como minimizar os horrores que vêm caracterizando as nossas penitenciárias.

d)

A nenhum dos intérpretes de um fato faltarão argumentos para considerá-lo segundo seu interesse e sua conveniência.

e)

Ainda que não lhes convenham fazer altos investimentos, as elites terão que calcular os custos de tanta violência.

Interpretação de Textos
5 -

Está clara e correta a redação deste livre comentário sobre o texto:

a)

O cronista se dispõe a denunciar que nosso sistema penitenciário desfruta de péssimas condições, impondo horrores aos que nele se encontram apenados.

b)

São ambíguas as reações à eventualidade de uma rebelião, haja visto que esta tanto pode gerar um certo fatalismo como propiciar ceticismo em relação aos bandidos.

c)

Sugere-se, no texto, que as barbaridades sofridas pelos presos, no sistema penitenciário, lembram as duras discriminações que sofrem os pobres em nossa sociedade.

d)

Há um fatalismo que predomina em nosso modo de ser, revelando uma índole violenta, que as elites sancionam quando lhes convêm, ou fazem vista grossa, quando é o caso.

e)

O texto indica que não deixa de ser cômodo, para muitos, acreditar que existe uma natureza humana violenta e irreprimível, contra a qual não vale a pena lutar, mas resignar-se.

Você está conectado?

                  Alguns anos atrás, a palavra "conectividade" dormia em
paz, em desuso, nos dicionários, lembrando vagamente algo
como ligação, conexão. Agora, na era da informática e de todas
as mídias, a palavra pulou para dentro da cena e ninguém mais
admite viver sem estar conectado. Desconfio que seja este o
paradigma dominante dos últimos e dos próximos anos, em
nossa aldeia global: o primado das conexões.
                 No ônibus de viagem, de que me valho regularmente,
sou quase uma ilha em meio às mais variadas conexões: do vizinho
da direita vaza a chiadeira de um fone de ouvido bastante
ineficaz; do rapazinho à esquerda chega a viva conversa que
mantém há quinze minutos com a mãe, pelo celular; logo à
frente um senhor desliza os dedos no laptop no colo, e se eu
erguer um pouquinho os olhos dou com o vídeo − um filme de
ação − que passa nos quatro monitores estrategicamente posicionados
no ônibus. Celulares tocam e são atendidos regularmente,
as falas se cruzam, e eu nunca mais consegui me distrair
com o lento e mudo crepúsculo, na janela do ônibus.
                 Não senhor, não são inocentes e efêmeros hábitos
modernos: a conectividade irrestrita veio para ficar e conduzir a
humanidade a não sabemos qual destino. As crianças e os jovens
nem conseguem imaginar um mundo que não seja movido
pela fusão das mídias e surgimento de novos suportes digitais.
Tanta movimentação faz crer que, enfim, os homens estreitaram
de vez os laços da comunicação.
                Que nada. Olhe bem para o conectado ao seu lado.
Fixe-se nele sem receio, ele nem reparará que está sendo
observado. Está absorto em sua conexão, no paraíso artificial
onde o som e a imagem valem por si mesmos, linguagens prontas
em que mergulha para uma travessia solitária. A conectividade
é, de longe, o maior disfarce que a solidão humana
encontrou. É disfarce tão eficaz que os próprios disfarçados não
se reconhecem como tais. Emitimos e cruzamos frenéticos sinais
de vida por todo o planeta: seria esse, Dr. Freud, o sintoma
maior de nossas carências permanentes?

(Coriolano Vidal, inédito)

6 -

O paradoxo central de que trata o autor dessa crônica está no fato de que

a)

o paradigma da conectividade fez o homem apagar sua maior conquista: uma efetiva comunicação com seus semelhantes.

b)

as múltiplas mídias contemporâneas exercem tamanha sedução sobre nós que deixamos de ser o que sempre fomos: uns românticos.

c)

nunca foi tão difícil ficarmos sós, mormente numa época como a nossa, em que a solidão ganhou foros de alto prestígio.

d)

as múltiplas formas de conectividade, que marcam nosso tempo, surgem como um eficaz mascaramento da humana solidão.

e)

as pessoas que se rendem a todos os mecanismos de conexão são as que melhor compreendem as razões de suas carências.

7 -

Atente para as seguintes afirmações:

I. No primeiro parágrafo, sugere o autor que a velha palavra "conectividade" ganhou novas conotações, em virtude da multiplicação das mídias e dos novos hábitos sociais.

II. No segundo parágrafo, a experiência de uma viagem de ônibus é nostalgicamente lembrada para se opor ao mundo das comunicações eletrônicas e dos transportes mais rápidos.

III. No último parágrafo, o autor vê nas obsessivas conexões midiáticas e em seus múltiplos suportes um indício de que estamos buscando suprimir nossas carências mais profundas.

Em relação ao texto está correto SOMENTE o que se afirma em

a)

I.

b)

II.

c)

III.

d)

I e II.

e)

II e III.

8 -

Considerando-se o contexto, está correta a seguinte observação sobre uma expressão ou frase do texto:

a)

em um fone de ouvido bastante ineficaz, o termo sublinhado tem o sentido de desestimulante.

b)

a conectividade que veio para ficar é qualificada como irrestrita porque ela nada restringe a ninguém.

c)

o segmento Que nada enfatiza a ideia de que os homens já não se deparam com entraves em sua comunicação.

d)

com paraíso artificial, o autor quer acentuar o fato de que o prestígio da conectividade não será duradouro.

e)

ao empregar de longe, o autor intensifica a superioridade da comparação a seguir.

Pronomes: Emprego, Formas de Tratamento e Colocação
9 -

Está INADEQUADO o emprego do elemento sublinhado na frase:

a)

No ônibus de viagem, ao qual recorro regularmente, sou quase uma ilha em meio às mais variadas conexões.

b)

Ao contrário de outros tempos, já não é mais ao crepúsculo que me atenho em minhas viagens.

c)

A conectividade está nos conduzindo a um destino com o qual ninguém se arrisca a prever.

d)

As pessoas absortas em suas conexões parecem imergir numa espécie de solidão com cujo sentido é difícil de atinar.

e)

O cronista considera que nossas necessidades permanentes, às quais alude no último parágrafo, disfarçam-se em meio a tantas conexões.

10 -

A conectividade está na ordem do dia, não há quem dispense a conectividade, seja para testar o alcance da conectividade, seja para alçar a conectividade ao patamar dos valores absolutos.

Evitam-se as viciosas repetições do texto acima substituindo-se os elementos sublinhados, na ordem dada, por:

a)

lhe dispense - testá-la o alcance - alçá-la

b)

a dispense - lhe testar o alcance - alçá-la

c)

a dispense - a testar no seu alcance - lhe alçar

d)

dispense-a - testá-la o alcance - alçá-la

e)

dispense-lhe - lhe testar o alcance - lhe alçar

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