Acompanhava eu Henri Pirenne [importante historiador belga] a Estocolmo; mal chegamos, diz-me ele: “Que vamos nós ver primeiro? Parece que há uma Câmara nova. Comecemos por lá.” Depois, como se me quisesse evitar um movimento de surpresa, acrescentou: “Se eu fosse um antiquário, só teria olhos para as coisas velhas. Mas sou um historiador. É por isso que amo a vida.”
(Marc Bloch. Introdução à história, 1965.)
O episódio relatado pelo historiador francês Marc Bloch [1886–1944] é uma ilustração didática do ofício do historiador, considerando que ele procura
a)
alcançar o conhecimento rigoroso do passado, desvinculado de sua história presente. |
b)
compreender o passado sem deixar de atentar para o conhecimento do presente. |
c)
esquecer os problemas de sua época, voltando-se para um passado distante. |
d)
demonstrar, por meio de exemplos, a inutilidade do saber histórico. |
e)
imitar os políticos do passado com o objetivo de resolver os problemas contemporâneos. |
Pois a plebe, que nada ousa por si, e a nenhum conselho é admitida, quase é tida no lugar de escravos. Os mais dela, quando se veem oprimidos, ou por dívida, ou pela grandeza dos tributos, ou pela prepotência dos poderosos, escravizam-se aos nobres, que exercem sobre eles os mesmos direitos, que os senhores sobre os escravos.
(Júlio César. Comentários sobre a guerra gálica, s/d.)
Júlio César publicou seu livro sobre a conquista romana da Gália em 51 a.C., ano de conclusão da ação militar. O excerto, extraído desse livro, mostra a indignação do general diante da sociedade gaulesa, na qual, ao contrário de Roma, a plebe
a)
estava isenta de compromissos econômicos de qualquer espécie, vivendo isoladamente nas suas terras. |
b)
pouco participava das guerras, beneficiando-se dos alimentos ofertados gratuitamente pelo Estado. |
c)
tinha um baixo grau de instrução militar e, por isso, era desprezada pela culturalmente refinada nobreza gaulesa. |
d)
submetia-se aos vencedores romanos na tentativa de se libertar da severidade dos senhores gauleses. |
e)
mal se distinguia dos escravos, além de estar afastada dos direitos políticos. |
Uma valorização do trabalho vai ocorrer lentamente nos monastérios. A partir do século IX, a difusão, em toda a cristandade, da regra de São Bento, que insiste muito na importância do trabalho manual, representa um acontecimento muito importante para a história do Ocidente. O monge, ele próprio trabalhando, valoriza-o, considerando o trabalho uma forma de penitência e de oração.
(Jacques Le Goff. Por amor às cidades, 1998.)
Conclui-se, pela análise do excerto, que a atribuição de importância ao trabalho manual
a)
foi um obstáculo à expansão da reforma protestante na Europa. |
b)
surgiu por oposição ao elogio cristão da vida dos homens pobres. |
c)
pode ocorrer independentemente da sua função de acumulação de capital. |
d)
foi fundamental para o aparecimento do capitalismo nos mosteiros cristãos. |
e)
evitou a fixação de grandes empresas industriais nos países católicos. |
(Masaccio [1401–1428?]. A Trindade, 1427. Igreja Santa Maria Novella, Florença, Itália.)
O afresco de Masaccio é considerado uma das primeiras pinturas do renascimento italiano. Um novo espaço plástico foi apresentado nesta pintura mural, como
a)
os diversos níveis de representação, por meio da diminuição gradual do tamanho dos elementos arquitetônicos, como colunas, arcos e quadriláteros da abóbada. |
b)
os desenhos das figuras sagradas e profanas, contrariando a mentalidade cristã, que estava em franco declínio nas cidades italianas do início da Idade Moderna. |
c)
a atribuição de uma importância maior às cores do que ao que estava sendo mostrado, o sacrifício de Cristo. |
d)
a cena em que é pintada, pela primeira vez na história, a entrega pelo Deus Pai de Seu Filho em sacrifício pela redenção da humanidade. |
e)
as linhas predominantemente verticais, que desviam os olhares dos observadores do universo terrestre para o céu e o mundo celestial. |
Os jesuítas criaram, em 1610, sua primeira redução do Paraguai, entre os Tupis-Guaranis do Guairá. [...] Em fins do século XVII, o Estado jesuíta do Paraguai era o tipo destas teocracias. [...] As aldeias [eram] cercadas de fossos e de muralhas. [...] Os Guaranis tinham em abundância carne de vaca, chá, [...] sal, tabaco, vestes. Não eram sobrecarregados de trabalho. Os domingos e dias feriados, frequentes, aliás, eram dias de absoluto repouso.
(Roland Mousnier. A Europa e o Mundo. Os séculos XVI e XVII, 1968.)
O texto refere-se a uma relação peculiar dos europeus com as comunidades indígenas americanas. Comparando-se a vida indígena nas Missões Jesuíticas com outras experiências históricas impostas aos indígenas pelos europeus, no período colonial, é correto afirmar que:
a)
fora das Missões, nenhum indígena podia desfrutar de liberdade, embora eles fossem menos submetidos a jornadas extenuantes de trabalho diário no campo e nas oficinas. |
b)
nas Missões, os indígenas eram preparados militarmente para enfrentar o domínio europeu, embora eles fossem obrigados a produzir mercadorias para o comércio. |
c)
fora das Missões, os indígenas eram submetidos a diversos tipos de trabalho obrigatório, devendo produzir, extrair riquezas e gerar lucros para a burguesia espanhola. |
d)
nas Missões, a cultura e as crenças religiosas dos indígenas eram acatadas e preservadas, embora eles fossem escravizados pelos sacerdotes católicos. |
e)
fora das Missões, os indígenas tiveram condições de manter seu patrimônio cultural intacto e de rejeitar qualquer interferência religiosa europeia. |
O limpador de chaminés
Eu era bem novo, e minha mãe morria; e meu pai vendeu-me quando eu mal sabia balbuciar, chorando: “ ‘dor! ‘dor! ‘dor! ‘dor! ‘dor!” Assim, sujo e escuro, sou o limpador. Aquele é Tom Dacre, que chorou na vez em que lhe rasparam a cabeça: “Vês – consolei-o – Tom, que é bom não ter cabelo, pois assim fuligem não te suja o pelo.”
(William Blake. Canções da Inocência e da Experiência. www.arquivors.com.)
William Blake (1757–1827) foi poeta, pintor e ilustrador inglês. Foi, também, um severo crítico da sociedade inglesa de sua época. O poema O limpador de chaminés é
a)
um apelo dirigido às classes sociais dominantes na Inglaterra, para que remunerassem melhor os operários. |
b)
uma denúncia da crueldade da exploração da mão de obra infantil no período da Revolução Industrial. |
c)
a verbalização do sentimento de piedade cristã, que pregava o sofrimento como condição de salvação da alma. |
d)
o exemplo de literatura inglesa de combate às forças sociais que tentavam impedir o desenvolvimento econômico. |
e)
a celebração da Revolução Industrial e das melhores condições de vida e trabalho proporcionadas pelas fábricas. |
A expressão Destino Manifesto foi empregada pela imprensa e pelo governo norte-americano, no século XIX, como uma justificativa para a expansão territorial dos Estados Unidos para o Oeste. Posteriormente, essa expressão transformou-se em
a)
uma política de proteção das antigas colônias ibéricas ameaçadas de invasão pelas suas antigas metrópoles. |
b)
um projeto, colocado em prática por alguns democratas norte-americanos, de combate aos regimes ditatoriais no mundo. |
c)
um apelo à união dos países do continente americano em torno dos EUA no período da Guerra Fria. |
d)
um termo histórico padrão, usado frequentemente como sinônimo de expansão territorial dos EUA. |
e)
um acordo aduaneiro que englobava os países da América do Norte e alguns estados da América do Sul. |
Capistrano de Abreu publicou, em 1907, um dos mais importantes livros da historiografia brasileira, Capítulos de História Colonial. O historiador começa o capítulo consagrado à colonização do sertão brasileiro, com as seguintes palavras: A invasão flamenga constitui mero episódio da ocupação da costa. Deixa-a na sombra a todos os aspectos o povoamento do sertão, iniciado em épocas diversas, de pontos apartados, até formar-se uma corrente interior, mais volumosa e mais fertilizante que o tênue fio litorâneo.
A ocupação do interior do Brasil foi essencial para a
a)
constituição da sociedade mestiça brasileira, já que a população branca europeia predominava no litoral do país. |
b)
substituição da mão de obra escrava de origem africana pelo trabalho dos índios capturados no sertão. |
c)
consolidação da supremacia brasileira na América do Sul, com a anexação de territórios que se encontravam sob controle argentino. |
d)
garantia da livre circulação de mercadorias brasileiras para a costa ocidental do continente, alcançando-se, assim, o mercado do Oriente. |
e)
atual configuração geográfica do país, pois transgrediu limites territoriais antes negociados pelas metrópoles ibéricas. |
Amor choviá. Chuvesricou. Tava lavando roupa, maninha Quando Boto me pegou. – Ó Joaninha Vintém, Boto era feio ou não? – Ai era um moço loiro, maninha, tocador de violão. Me pegou pela cintura... – Depois o que aconteceu? – Gente! Olhe a tapioca embolando nos tachos – Mas que Boto safado!
(Raul Bopp. Cobra Norato, s/d.)
Cobra Norato foi escrito, segundo seu autor, em 1928 e publicado três anos depois. O poema explora, esteticamente,
a)
lendas amazônicas e falas populares, bem de acordo com o ideário do modernismo brasileiro. |
b)
fontes da cultura erudita luso-brasileira, expressas pelos escritores portugueses e brasileiros do século XIX. |
c)
relatos míticos consagrados e divulgados milenarmente desde os tempos clássicos e antigos da Grécia e de Roma. |
d)
aspectos sérios e tristonhos da cultura popular brasileira, presentes, sobretudo, na mitologia dos povos tupinambás. |
e)
narrativas originárias da África, transmitidas pelos escravos e recolhidas no patrimônio do folclore brasileiro. |
Quando uma seca devastadora se abateu sobre o nordeste em 1970, Médici voou para Recife para uma inspeção pessoal, e ficou profundamente chocado. Dezenas de milhares de flagelados rumavam para as cidades costeiras. Médici concluiu o óbvio: a região nordestina, considerados os seus recursos, tinha excesso de população. De volta do Recife, Médici decidiu que o Nordeste e a Amazônia deviam ser atacados como um só problema. O Brasil construiria uma estrada transamazônica que abriria o “despovoado” vale amazônico. O excesso de população do Nordeste seria levado para a Amazônia atraída pelas terras férteis e baratas. Médici chamou a isso “a solução de dois problemas: homens sem terra do Nordeste e terras sem homens na Amazônia”.
(Thomas Skidmore. Brasil: de Castelo a Tancredo, 1964-1985, 1988. Adaptado.)
O projeto da Transamazônica tinha múltiplos significados para o governo do general Emílio Garrastazu Médici. Mas, em certa medida, a Transamazônica repetia um projeto reiteradamente aplicado pelos governantes brasileiros que
a)
ignoravam a miséria social provocada por secas periódicas e a questão da tênue presença do Estado em algumas regiões brasileiras. |
b)
procuravam resolver problemas sociais do Nordeste por meio do desenvolvimento da Amazônia e, ao mesmo tempo, proteger um território de importância geopolítica. |
c)
favoreciam a elite social agrária do Nordeste brasileiro, deslocando, para a selva amazônica, militantes políticos e camponeses ligados aos sindicatos rurais. |
d)
atendiam aos apelos das populações das cidades litorâneas brasileiras, preocupadas com a periódica invasão de flagelados e retirantes oriundos da Amazônia. |
e)
insistiam na divisão, entre os camponeses sem terra, dos latifúndios nordestinos e, nesse meio tempo, transferiam parte da mão de obra excedente para o território amazonense. |
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