1 A inércia da vida real desaparece magicamente na navegação pelo ciberespaço, desprovida de fricção. No mercado atual, encontramos uma série de produtos privados de 4 suas propriedades malignas: café sem cafeína, creme sem gordura, cerveja sem álcool… ciberespaço. A realidade virtual simplesmente generaliza esse procedimento: cria uma realidade 7 privada de substância. Da mesma maneira que o café descafeinado tem cheiro e gosto semelhantes aos do café, sem ser café, minha personana rede é sempre um “eu” 10 descafeinado. Por outro lado, existe também o excesso oposto, e muito mais perturbador: o excedente de minha persona virtual com relação ao meu “eu” real. Nossa identidade social, 13 a pessoa que presumimos ser em nosso intercurso social, já é uma máscara, já envolve a repressão de nossos impulsos inadmissíveis; e é precisamente nessas condições de “só uma 16 brincadeira”, quando as regras que regulam os intercâmbios de nossas vidas reais estão temporariamente suspensas, que podemos nos permitir a exibição dessas atitudes reprimidas. 19 O fato de que eu perceba minha autoimagem virtual como simples brincadeira me permite, assim, suspender os obstáculos que usualmente impedem que eu realize meu “lado 22 escuro” na vida real — meu “ideletrônico” ganha asas dessa forma. E o mesmo se aplica aos meus parceiros na comunicação via ciberespaço. Não há como ter certeza de 25 quem sejam, de que sejam “realmente” como se descrevem, ou de saber se existe uma pessoa “real” por trás da persona online. A persona onlineé uma máscara para uma multiplicidade de 28 pessoas? A pessoa “real” com quem converso possui e manipula mais personasno computador, ou estou simplesmente me relacionando com uma entidade digitalizada 31 que não representa pessoa “real” alguma?
Slavoj Zizek. Identidades vazias. Internet: http: slavoj-zizek.blogspot.com.br (com adaptações).
A partir das ideias desenvolvidas no texto, julgue o(s) item(ns) a seguir.
De acordo com o texto, os parceiros do espaço virtual são pessoas que utilizam máscaras, para apresentar uma multiplicidade de pessoas.
Certa. |
Errada. |
A partir das ideias desenvolvidas no texto, julgue o(s) item(ns) a seguir.
Para o autor do texto, é mais preocupante a situação em que pessoas se valem do espaço virtual para extrapolar sua identidade real que aquela em que o utilizam para escondê-la.
Certa. |
Errada. |
Com relação às estruturas linguísticas do texto, julgue o(s) item(ns) seguinte(s).
Na linha 13, a supressão da vírgula empregada após o vocábulo “social” não acarretaria prejuízo gramatical ao período.
Certa. |
Errada. |
Com relação às estruturas linguísticas do texto, julgue o(s) item(ns) seguinte(s).
Seriam mantidas as relações sintáticas e semânticas do primeiro período do texto, caso o termo “desprovida” (L.2) fosse substituído por desprovido, passando, assim, a concordar com o elemento imediatamente anterior: “ciberespaço”.
Certa. |
Errada. |
Com relação às estruturas linguísticas do texto, julgue o(s) item(ns) seguinte(s).
Sem prejuízo para a correção gramatical do texto, o trecho “encontramos uma série de produtos privados de suas propriedades malignas” (L.3-4) poderia ser reescrito da seguinte forma: encontra-se uma série de produtos destituídos de suas propriedades malignas.
Certa. |
Errada. |
1 Comigo exerceu com calma ferocidade o seu sadismo. Na minha ânsia de ler, eu nem notava as humilhações a que ela me submetia: continuava a implorar-lhe emprestados os livros 4 que ela não lia. Até que veio para ela o magno dia de começar a exercer sobre mim uma tortura chinesa. Como casualmente, 7 informou-me que possuía As Reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato. Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se 10 ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o. E completamente acima de minhas posses. Disse-me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela o emprestaria. 13 Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança de alegria: eu não vivia, nadava devagar em um mar suave, as ondas me levavam e me traziam. No dia seguinte, 16 fui à sua casa, literalmente correndo. Não me mandou entrar. Olhando bem para meus olhos, disse-me que havia emprestado o livro a outra menina, e que eu voltasse no dia seguinte para 19 buscá-lo. Boquiaberta, saí devagar, mas em breve a esperança de novo me tomava toda e eu recomeçava na rua a andar pulando, que era o meu modo estranho de andar pelas ruas de 22 Recife. Dessa vez nem caí: guiava-me a promessa do livro, o dia seguinte viria, os dias seguintes seriam mais tarde a minha vida inteira, o amor pelo mundo me esperava, andei pulando 25 pelas ruas como sempre e não caí nenhuma vez.
Clarice Lispector.Felicidade clandestina. In: Felicidade clandestina: contos. Rio de Janeiro: Rocco, 1998 (com adaptações).
Julgue o(s) próximo(s) item(ns), referente(s) às ideias e às estruturas linguísticas do texto acima.
Na linha 11, o afirmar que o valor do livro estava completamente acima de suas posses, a personagem declara não possuir livros daquele tipo.
(Questão anulada)Certa. |
Errada. |
Julgue o(s) próximo(s) item(ns), referente(s) às ideias e às estruturas linguísticas do texto acima.
Infere-se do texto, narrado em primeira pessoa, que a personagem principal sujeitou-se a atitudes perversas de uma colega, para conseguir emprestada uma obra de Monteiro Lobato.
Certa. |
Errada. |
Julgue o(s) próximo(s) item(ns), referente(s) às ideias e às estruturas linguísticas do texto acima.
A partir do trecho “os dias seguintes seriam mais tarde a minha vida inteira”, é correto inferir que, em sua vida adulta, a personagem continuou dependente do empréstimo de livros de terceiros.
Certa. |
Errada. |
Julgue o(s) próximo(s) item(ns), referente(s) às ideias e às estruturas linguísticas do texto acima.
Na linha 16, o acento indicativo de crase em “à sua casa” é obrigatório, uma vez que o vocábulo “casa” está especificado pelo pronome “sua” e o verbo ir— “fui” — exige a preposição a.
Certa. |
Errada. |
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