Atenção: Para responder à(s) questão(ões) a seguir, considere o texto abaixo.
Alguns mapas e textos do século XVII apresentam-nos a vila de São Paulo como centro de amplo sistema de estradas expandindo-se rumo ao sertão e à costa. Os toscos desenhos e os nomes estropiados desorientam, não raro, quem pretenda servir-se desses documentos para a elucidação de algum ponto obscuro de nossa geografia histórica. Recordam-nos, entretanto, a singular importância dessas estradas para a região de Piratininga, cujos destinos aparecem assim representados em um panorama simbólico.
Neste caso, como em quase tudo, os adventícios deveram habituar-se às soluções e muitas vezes aos recursos materiais dos primitivos moradores da terra. Às estreitas veredas e atalhos que estes tinham aberto para uso próprio, nada acrescentariam aqueles de considerável, ao menos durante os primeiros tempos. Para o sertanista branco ou mamaluco, o incipiente sistema de viação que aqui encontrou foi um auxiliar tão prestimoso e necessário quanto o fora para o indígena. Donos de uma capacidade de orientação nas brenhas selvagens, em que tão bem se revelam suas afinidades com o gentio, mestre e colaborador inigualável nas entradas, sabiam os paulistas como transpor pelas passagens mais convenientes as matas espessas ou as montanhas aprumadas, e como escolher sítio para fazer pouso e plantar mantimentos.
Eram de vária espécie esses tênues e rudimentares caminhos de índios. Quando em terreno fragoso e bem vestido, distinguiam- se graças aos galhos cortados a mão de espaço a espaço. Uma sequência de tais galhos, em qualquer floresta, podia significar uma pista. Nas expedições breves serviam de balizas ou mostradores para a volta. Era o processo chamado ibapaá, segundo Montoya, caapeno, segundo o padre João Daniel, cuapaba, segundo Martius, ou ainda caapepena, segundo Stradelli: talvez o mais generalizado, não só no Brasil como em quase todo o continente americano. Onde houvesse arvoredo grosso, os caminhos eram comumente assinalados a golpes de machado nos troncos mais robustos. Em campos extensos, chegavam em alguns casos a extremos de sutileza. Koch-Grünberg viu uma dessas marcas de caminho na serra de Tunuí: constava simplesmente de uma vareta quebrada em partes desiguais, a maior metida na terra, e a outra, em ângulo reto com a primeira, mostrando o rio. Só a um olhar muito exercitado seria perceptível o sinal.
(Sérgio Buarque de Holanda. Caminhos e fronteiras. 3.ed. S. Paulo: Cia. das Letras, 1994. p.19-20)
Segundo o autor,
a)
o sertanista compartilhava com os indígenas não apenas os caminhos que estes já haviam estabelecido, como também a sua perícia na ultrapassagem dos terrenos mais acidentados. |
b)
os caminhos estabelecidos pelos indígenas eram tão precários que os paulistas, antes de conseguirem realizar algumas melhorias, acabavam se desorientando quando tentavam percorrê-los. |
c)
a transposição dos caminhos abertos pelos índios era bastante traiçoeira, sobretudo por conta dos galhos cortados que constituíam pistas falsas para desorientar o caminhante inadvertido. |
d)
as marcas realizadas na vegetação eram tão sutis que os próprios indígenas acabavam se confundindo e eram então ajudados pelos sertanistas para precisar a localização dos caminhos. |
e)
a ausência de estradas mais bem acabadas foi um dos motivos para o sucesso do paulista nas entradas, pois teve de abrir seus próprios caminhos para atingir o interior do país. |
Há no texto a sugestão de que
a)
a linguagem indígena seria inadequada para a nomeação de regiões e estradas a serem figuradas num mapa. |
b)
os desdobramentos da história de São Paulo seriam inseparáveis de seu sistema de estradas do século XVII. |
c)
o homem civilizado do século XVII seria mais preocupado com a preservação ambiental do que os indígenas. |
d)
as vestimentas usadas pelos indígenas tornariam o deslocamento por determinados terrenos ainda mais difícil. |
e)
antigos mapas geográficos poderiam conter símbolos que aludem a conhecimentos mágicos e esotéricos. |
O segmento do texto cujo sentido está corretamente expresso em outras palavras é:
a)
os nomes estropiados desorientam = os predicativos bárbaros aturdem. |
b)
revelam suas afinidades com o gentio = eclipsam seus vínculos com o popular. |
c)
Quando em terreno fragoso = Se em local plano e espaçoso. |
d)
os adventícios deveram habituar-se = os forasteiros tiveram de acostumar-se. |
e)
o incipiente sistema de viação = a incompreensível organização dos veículos. |
Donos de uma capacidade de orientação nas brenhas selvagens [...], sabiam os paulistas como...
O segmento em destaque na frase acima exerce a mesma função sintática que o elemento grifado em:
a)
Nas expedições breves serviam de balizas ou mostradores para a volta. |
b)
Às estreitas veredas e atalhos [...], nada acrescentariam aqueles de considerável... |
c)
Só a um olhar muito exercitado seria perceptível o sinal. |
d)
Uma sequência de tais galhos, em qualquer floresta, podia significar uma pista. |
e)
Alguns mapas e textos do século XVII apresentam-nos a vila de São Paulo como centro... |
Koch-Grünberg viu uma dessas marcas de caminho na serra de Tunuí...
Transpondo-se a frase acima para a voz passiva, a forma verbal resultante será:
a)
foi visto. |
b)
foram vistas. |
c)
fora vista. |
d)
eram vistas. |
e)
foi vista. |
A substituição do elemento grifado pelo pronome correspondente, com os necessários ajustes, foi realizada de modo INCORRETO em:
a)
mostrando o rio = mostrando-o. |
b)
como escolher sítio = como escolhê-lo. |
c)
transpor [...] as matas espessas = transpor-lhes. |
d)
Às estreitas veredas [...] nada acrescentariam = nada lhes acrescentariam. |
e)
viu uma dessas marcas = viu uma delas. |
Quando em terreno fragoso e bem vestido, distinguiam -se graças aos galhos cortados a mão de espaço a espaço.
O verbo empregado nos mesmos tempo e modo que o grifado acima está em:
a)
... um auxiliar tão prestimoso e necessário quanto o fora para o indígena... |
b)
Onde houvesse arvoredo grosso, os caminhos... |
c)
Os toscos desenhos e os nomes estropiados desorientam, não raro... |
d)
... nada acrescentariam aqueles de considerável... |
e)
... constava simplesmente de uma vareta quebrada em partes desiguais... |
Atente para as afirmações abaixo sobre a pontuação empregada em segmentos do texto.
I. Recordam-nos, entretanto, a singular importância dessas estradas para a região de Piratininga, cujos destinos aparecem assim representados em um panorama simbólico. (1o parágrafo) A vírgula colocada imediatamente depois de Piratininga poderia ser retirada sem alteração de sentido.
II. Eram de vária espécie esses tênues e rudimentares caminhos de índios. (3.º parágrafo) A inversão da ordem direta na construção da frase acima justificaria a colocação de uma vírgula imediatamente depois de espécie, sem prejuízo para a correção.
III. Era o processo chamado ibapaá, segundo Montoya, caapeno, segundo o padre João Daniel, cuapaba, segundo Martius, ou ainda caapepena, segundo Stradelli: talvez o mais generalizado, não só no Brasil como em quase todo o continente americano. (3.º parágrafo)
Os dois-pontos poderiam ser substituídos por um travessão, sem prejuízo para a correção e a clareza.
Está correto o que se afirma APENAS em
a)
III. |
b)
I e II. |
c)
II. |
d)
II e III. |
e)
I e III. |
... constava simplesmente de uma vareta quebrada em partes desiguais...
O verbo que exige o mesmo tipo de complemento que o grifado acima está empregado em:
a)
Em campos extensos, chegavam em alguns casos a extremos de sutileza. |
b)
... eram comumente assinalados a golpes de machado nos troncos mais robustos. |
c)
Os toscos desenhos e os nomes estropiados desorientam, não raro, quem... |
d)
Koch-Grünberg viu uma dessas marcas de caminho na serra de Tunuí... |
e)
... em que tão bem se revelam suas afinidades com o gentio, mestre e colaborador... |
A frase redigida com clareza e a correção é:
a)
Priorizando os acontecimentos miúdos e os personagens anônimos, geralmente relegados à segundo plano pela historiografia tradicional, os livros escritos por Sérgio Buarque sobre a história brasileira, sobretudo a do período colonial, de modo saboroso e bastante original. |
b)
Muitos aspectos da história do período colonial que não ficaram registrados nos documentos históricos tradicionais, Sérgio Buarque os vai buscar entre as pessoas que ainda preservam hábitos e costumes ancestrais, sem deixar de recorrer às fontes sempre ricas da literatura. |
c)
Com estradas asfaltadas para qualquer rincão do país, mesmo que se possam criticar o seu estado de conservação, é só com muito esforço que podemos imaginar a enorme dificuldade que constituía os deslocamentos pelo interior a época do período colonial. |
d)
Vítimas de uma colonização violenta e brutal, a história contada sempre do ponto de vista dos colonizadores ainda discriminam os indígenas, cujos são geralmente relegados à notas de rodapé de obras que quase nada lhes referem de modo positivo. |
e)
Muito mais do que costumamos pensar ou gostaríamos de admitir, os hábitos e costumes indígenas foram bastante assimilados pelos brancos, que os passaram de geração à geração, até chegarem mesmo há nossos dias, em que a presença desses povos quase não são notados. |
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