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Informações da Prova Questões por Disciplina Defensoria Pública do Estado - Rio Grande do Sul - Analista - Saúde - Cardiologia - FCC - Fundação Carlos Chagas - 2013 - Prova Objetiva - Saúde - Cardiologia

Compreensão e Interpretação de Textos

Vista Cansada

Atenção: A(s) questão(ões) a seguir refere(m)-se ao texto seguinte.

Acho que foi Hemingway quem disse que olhava cada coisa à sua volta como se a visse pela última vez. Essa ideia de olhar pela última vez tem algo de deprimente. Olhar de despedida, de quem não crê que a vida continua, não admira que Hemingway tenha acabado como acabou. Fugiu enquanto pôde do desespero que o roía − e daquele tiro brutal que acabou dando em si mesmo.

Se eu morrer, morre comigo um certo modo de ver, disse o poeta. Um poeta é só isto: um certo modo de ver. O diabo é que, de tanto ver, a gente banaliza o olhar. Vê não vendo. Experimente ver pela primeira vez o que você vê todo dia, sem ver. Parece fácil, mas não é. O que nos cerca, o que nos é familiar, já não desperta curiosidade. O campo visual da nossa rotina é como um vazio.

Você sai todo dia, por exemplo, pela mesma porta. Se alguém lhe perguntar o que é que você vê no seu caminho, você não sabe. De tanto ver, você não vê. Sei de um profissional que passou trinta e dois anos a fio pelo mesmo hall do prédio de seu escritório. Lá estava sempre, pontualíssimo, o mesmo porteiro. Dava-lhe bom-dia e às vezes lhe passava um recado ou uma correspondência. Um dia o porteiro cometeu a descortesia de falecer. Como era ele? Sua cara? Sua voz? Não fazia a mínima ideia. Em trinta e dois anos, nunca o viu. Para ser notado, o porteiro teve que morrer.

O hábito suja os olhos e lhes baixa a voltagem. Mas há sempre o que ver. Gente, coisas, bichos. E vemos? Não, não vemos. Uma criança vê o que o adulto não vê. Tem olhos atentos e limpos para o espetáculo do mundo. O poeta é capaz de ver pela primeira vez o que, de tão visto, ninguém vê. Há pai que nunca viu o próprio filho. Marido que nunca viu a própria mulher, isso existe às pampas. Nossos olhos se gastam no dia a dia, opacos. É por aí que se instala no coração o monstro da indiferença.

(Otto Lara Resende, Bom dia para nascer)

1 -

Deve-se entender o título do texto - Vista cansada - como uma alusão do autor ao fato de que

a)

os pessimistas, como Hemingway, acreditam que nosso olhar para as coisas implica sempre uma visão de despedida da vida.

b)

os poetas, ao contrário de Hemingway, pensam ver tudo como se estivessem sempre se revelando um mundo inteiramente original.

c)

nós tendemos a deixar de ver as coisas porque mecanizamos nosso olhar, não distinguindo o que lhes é característico.

d)

nós tendemos a reparar tão somente nos detalhes das coisas, perdendo o sentido da visão do conjunto a que se integram.

e)

nós tendemos, com o tempo, a enfraquecer nossa visão das coisas pelo excesso de atenção que nos esforçamos para lhes dedicar.

Relação de Causa e Consequência
2 -

Há uma relação de causa e efeito entre as seguintes afirmações:

a)

de tanto ver, a gente banaliza o olhar e Parece fácil, mas não é (2.º parágrafo)

b)

passou trinta e dois anos a fio e pelo mesmo hall do prédio (3.º parágrafo)

c)

Lá estava sempre, pontualíssimo e Para ser notado, o porteiro teve que morrer (3.º parágrafo)

d)

O hábito suja os olhos e lhes baixa a voltagem e Não, não vemos (4.º parágrafo)

e)

Marido que nunca viu a própria mulher e isso existe às pampas (4.º parágrafo)

Língua Portuguesa
3 -

Considerando-se o contexto, a expressão a gente banaliza o olhar (2.º parágrafo) aciona um sentido oposto ao que sugere o segmento

a)

Essa ideia de olhar (...) tem algo de deprimente.

b)

Tem olhos atentos e limpos.

c)

o que, de tão visto, ninguém vê.

d)

Nossos olhos se gastam no dia a dia, opacos.

e)

se instala no coração o monstro da indiferença.

Reescritura de texto
4 -

A frase do texto cujo sentido se mantém numa nova e correta redação é:

a)

Se eu morrer, morre comigo um certo modo de ver = Comigo morre um certo modo de ver, ainda que eu venha a morrer.

b)

De tanto ver, você não vê = Você não vê, apesar de tanto ver.

c)

Em trinta e dois anos, nunca o viu. = Nunca o viu, por força de ter-se passado trinta e dois anos.

d)

O hábito suja os olhos e lhes baixa a voltagem = Mesmo que lhes suje, o hábito baixa a voltagem dos olhos.

e)

Uma criança vê o que o adulto não vê = Não vê o adulto coisas que vê a criança.

Compreensão e Interpretação de Textos
5 -

Atente para as seguintes afirmações:

I. No primeiro parágrafo, o autor do texto estabelece uma relação direta entre o pessimismo da frase atribuída a Hemingway e o brutal suicídio que este viria a cometer.

II. No segundo parágrafo, o certo modo de ver que o poeta julga morrer com ele valoriza a perspectiva pessoal da qual nasce uma bem particular visão do mundo.

III. No último parágrafo, o sentimento da indiferença, que nos invade, é diretamente relacionado à visão opaca das coisas causada pelo hábito.

Em relação ao texto, está correto o que se afirma em

a)

I e II, somente.

b)

I e III, somente.

c)

II, somente.

d)

II e III, somente.

e)

I, II e III.

Concordância Nominal e Verbal
6 -

Estão plenamente respeitadas as normas de concordância verbal na frase:

a)

Devem-se emprestar a todas as coisas, nas palavras de Hemingway, o olhar daquele que as vê pela derradeira vez, como se delas se despedissem.

b)

O desespero das tantas dores que podem afligir certos homens levam alguns desses infelizes ao suicídio, é o que parece explicar a triste e brutal decisão de Hemingway.

c)

Guardam muita ironia as palavras de que se valeu o autor para mostrar que somente a notícia da morte do porteiro fez alguns notarem que ele havia existido.

d)

Sempre haverá o marido e o pai que não tem olhos para ver, de fato, quem são sua esposa e seu filho, quem de fato são esses a quem não rende momentos de atenção.

e)

A criança, tal como ocorre com os poetas, são capazes de olhar as coisas com tão dedicada atenção que acabam por estabelecer uma visão efetivamente criativa de tudo.

Vozes do Verbo
7 -

Está transposta para a voz passiva, sem prejuízo para o sentido, a seguinte construção:

a)

Hemingway acabou dando um tiro em si mesmo = Um tiro se deu o próprio Hemingway.

b)

Acaba-se por banalizar o modo de olhar = O modo de olhar acaba por ser banalizado.

c)

Ele cometeu o desagravo de falecer = O cometimento de falecer desagravou-o.

d)

Há pai que nunca viu o próprio filho = Há o próprio filho que nunca terá sido visto pelo pai.

e)

No coração instala-se o monstro da indiferença = O monstro da indiferença tem sido instalado no coração.

Pontuação
8 -

Está plenamente adequada a pontuação do seguinte período:

a)

Crianças e poetas, acredita o autor, são capazes de olhar o mundo de modo atento e criativo, como se o olhassem pela primeira vez, revelando nele, por isso, faces que, para a maioria de nós, permanecem ocultas.

b)

Crianças e poetas acredita o autor, são capazes de olhar, o mundo, de modo atento e criativo como se o olhassem pela primeira vez, revelando nele por isso faces que para a maioria de nós permanecem ocultas.

c)

Crianças e poetas - acredita o autor, são capazes de olhar o mundo de modo atento, e criativo, como se o olhassem pela primeira vez revelando nele, por isso, faces que para a maioria de nós permanecem ocultas.

d)

Crianças e poetas, acredita o autor: são capazes de olhar o mundo de modo atento e criativo, como se o olhassem, pela primeira vez revelando nele, por isso, faces que para a maioria de nós, permanecem ocultas.

e)

Crianças e poetas, acredita o autor, são capazes de olhar o mundo, de modo atento e criativo, como se o olhassem pela primeira vez, revelando nele por isso faces que, para a maioria de nós permanecem ocultas.

Compreensão e Interpretação de Textos

O maior, o melhor

Atenção: A(s) questão(ões) a seguir refere(m)-se ao texto seguinte.

Há algum tempo um jornal de grande circulação promoveu uma enquete para saber qual é o maior escritor brasileiro, se Machado de Assis ou se Guimarães Rosa. Parece que antes de mais nada já não haveria qualquer dúvida sobre os dois maiores, cabendo apenas hierarquizá-los. Essa mania de o maior, o melhor está cada vez mais incorporada ao competitivo mundo moderno. Trata-se de eleger logo um absoluto, um superlativo, numa espécie de torneio promovido a propósito de tudo: o melhor cantor, o melhor atacante, o maior empresário, o maior bandido...

Muito sabiamente, o poeta Manuel Bandeira resolveu logo a parada, declarando-se já de saída um “poeta menor”, e ainda pediu desculpas por isso. Convivendo com a tuberculose desde adolescente, nosso poeta conviveu também com a alta probabilidade de uma morte precoce − e a morte, como se sabe, costuma relativizar tudo. Ela não respeita nem os maiores, nem os melhores. Qualquer hierarquia perde o sentido diante dela. E justamente por se saber “menor”, isto é, mortal, humano, falível, limitado, o poeta Manuel Bandeira acabou fazendo de suas pequenas experiências uma grande e comovente poesia.

Ele poderia ser exemplo para todos os que corremos atrás do primeiro lugar, do prêmio máximo, do recorde mundial. Essa tolice de achar que a felicidade está no topo do Everest e em nenhum outro lugar alimenta a máquina de ansiosos em que a nossa sociedade se converteu. Quem fica de olho no máximo perde toda a graça do mínimo, que é onde, afinal, se aloja a felicidade possível. Os pequenos momentos, os detalhes da afetividade, as palavras simples e necessárias, os gestos minúsculos mas imprescindíveis jamais ganharão um prêmio Nobel. E no entanto está nessa aparente pequenez, não tenho dúvida, o que pode dar sentido à nossa vida.

(Agostinho Rubinato, inédito)

9 -

O texto mostra que há uma íntima conexão entre

a)

a necessidade de se hierarquizar tudo e a simplicidade da poesia de Manuel Bandeira.

b)

a disputa entre Machado de Assis e Guimarães Rosa e a falta de sentido do prêmio Nobel.

c)

a obsessão pelos superlativos e a competitividade do mundo moderno.

d)

o destemor diante da morte e a procura do sucesso a qualquer preço.

e)

o prestígio do sucesso máximo e a felicidade advinda do máximo sacrifício.

10 -

Atente para as seguintes afirmações:

I. Ainda que ache despropositada a comparação entre Machado de Assis e Guimarães Rosa, pelas diferenças de seus caminhos literários, o autor expressa a plena convicção de que se trata dos nossos dois maiores escritores.

II. Deve-se entender do texto que a simplicidade da poesia de Manuel Bandeira, se não fez dele um poeta notável, tornou-o apto a enfrentar as grandes adversidades da vida, habilitando-o a ser feliz como poucos o foram em seu tempo.

III. O texto sugere que, diante da implacabilidade da morte, deveríamos aprender a relativizar as coisas, encontrando no aparentemente "“menor”" a possibilidade da grandeza e da felicidade, como o fez Manuel Bandeira.

Em relação ao texto está correto o que se afirma em

a)

I e II, somente.

b)

II, somente.

c)

II e III, somente.

d)

III, somente.

e)

I, II e III.

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