Atenção: Considere o texto abaixo para responder à(s) questão(ões) a seguir.
Pois se ainda ontem eu era jovem, conforme me asseguravam, asseguro-lhes que ainda hoje minha juventude não acabou. Se viesse a acabar, estaria tão velho que não saberia disso − o que significa que serei eternamente jovem. Preciso acrescentar: nada tenho de especial, todos os jovens da minha idade (isto é, acima dos 60) sabem disso. Não adianta os espelhos (por que se espalham por toda parte?) pretenderem mostrar o contrário, jogar-nos na cara nossa imagem envelhecida. Nós sabemos que eles mentem, sabemos que não têm como refletir nosso espírito − daí se vingarem, refletindo tão somente o que aparece.
Vou mais longe: não é que não envelheçamos, com essa mania que tem o tempo de nunca parar; na verdade, quanto mais anos vivemos, mais remoçamos. Alguns vivem até recuperar de vez − para nunca mais largar dela − a liberdade da infância. Enquanto lá não chego (esperando chegar), vou remoçando, remoçando, a ponto dos jovens de dezenove anos me pedirem mais moderação, mais compostura. Toda vez que fazem isso, surpreendo, no fundo de seus olhos, uma inveja incomensurável: inveja da minha adolescência verdadeira.
É verdade que a natureza, que tem lá seus caprichos, gosta de brincar com nossa juventude de sexagenários. Ela faz, por exemplo, o chão parecer mais longe: custa-nos chegar a ele, para apanhar aquela moedinha. Brinca, ainda, com nosso senso de equilíbrio: um volteio mais rápido do corpo e parece que a Terra subitamente acelerou a rotação. E já não podemos saltar imitando um saci, sobre os quadrados marcados a giz na calçada das brincadeiras: mesmo duas pernas mostram-se insuficientes para retomar o equilíbrio.
Enfim: valha esta mensagem para todos os jovens que ainda acreditam na velhice. Bobagem, meus amiguinhos: a velhice não chega nunca, é mais uma ilusão da juventude. Não adianta o corpo insistir em dar todos os sinais de mau funcionamento, inútil insistirem as bactérias em corromper nossos tecidos, inútil os olhos perderem a luz de dentro e a luz de fora: morremos sempre jovens, espantados por morrer, atônitos com essa insistência caprichosa e absurda da natureza, de vir ceifar nossa vida exatamente quando desfrutamos do esplendor de nossa juventude mais madura.
(Adamastor Rugendas, inédito)
Mostrando-se convicto de seu próprio conceito de juventude, o autor do texto deseja demonstrar que a velhice
a)
existe apenas quando tomamos consciência de sua chegada, o que costuma ocorrer com os primeiros sinais da decrepitude física. |
b)
somente atinge nosso espírito quando tomamos conhecimento dela pela implacável imagem de nós mesmos que os espelhos fornecem. |
c)
chega primeiro para aqueles que, quando jovens, não se preparam para enfrentar todos os limites e dissabores dos últimos anos da vida. |
d)
efetivamente nunca chega, pois o espírito é imune a ela e não acusa em si mesmo as carências e as restrições físicas que chegam com o tempo. |
e)
de fato inexiste para aquele que, mesmo se sentindo velho e acabado, consegue transmitir aos outros uma imagem de jovialidade. |
Atente para as seguintes afirmações:
I. Para o autor do texto, uma evidência de que a velhice não é ilusória está no fato de que os jovens fingem não temê-la e de que os velhos simulam não acreditar nela, sabendo ambos o quanto o tempo é implacável.
II. No segundo parágrafo, o autor retrata-se do exagero que cometeu no parágrafo anterior, onde afirmou minha juventude não acabou, e no terceiro parágrafo confessará que não é pouco penoso ser um sexagenário.
III. Ao longo do texto, o autor promove uma desvinculação entre o corpo e o espírito, de modo que um sexagenário possa sentir-se intimamente jovem.
Em relação ao texto, está correto SOMENTE o que se afirma em
a)
I. |
b)
II. |
c)
III. |
d)
I e II. |
e)
II e III. |
Considerando-se o contexto, traduz-se com correção e coerência o sentido do seguinte segmento:
a)
Pois se ainda ontem eu era jovem (1.º parágrafo) = mesmo que ontem eu fosse moço |
b)
não têm como refletir nosso espírito (1.º parágrafo) = não podem espiritualizar nossa imagem |
c)
até recuperar de vez (2.º parágrafo) = afim de se reabilitar inteiramente |
d)
uma inveja incomensurável (2.º parágrafo) = um anseio irretratável |
e)
desfrutamos do esplendor (4.º parágrafo) = usufruímos a magnificência |
Está clara e correta a redação deste livre comentário sobre o texto:
a)
Os espelhos, do ponto de vista das pessoas velhas, não existem se não para mostrá-las os traços indesejáveis de seus rostos, já que o espírito lhes permanece jovem. |
b)
Para o autor do texto, o espírito das pessoas não envelhece: com o correr dos anos, elas passam a se sentir mais e mais jovens. |
c)
É de se confessar que a velhice trás, de fato, alguns resquícios de enfraquecimento, haja visto os desequilíbrios corporais e sua cada vez menor elasticidade. |
d)
O autor chega ao displante de considerar a velhice uma mera ilusão da juventude; parece-lhe, até mesmo, que os sexagenários são mais adolescentes que os mesmos. |
e)
Há alguns velhinhos, de fato, em cujos trejeitos os fazem assemelhados a crianças, razão pela qual o autor considera a possibilidade de um contínuo remoçamento. |
Considerando-se as normas de concordância verbal, há uma irregularidade na frase:
a)
Não deveriam preocupar aos mais velhos, na opinião do autor do texto, a expectativa de que os muitos anos já vividos acarretam a decrepitude do espírito. |
b)
Falando dos sexagenários, assegura-nos o autor que seu espírito não envelhece, que podem mesmo senti-lo rejuvenescido sob mais de um aspecto. |
c)
Que os desequilíbrios do corpo ou a falta de agilidade não pareçam aos mais velhos o indício de um pleno envelhecimento, pois o espírito não acusa tais fraquezas. |
d)
Não sei o quanto surpreenderá aos jovens o fervor com que o autor se vale de argumentos para considerar que os anos de velhice efetivamente nunca chegam. |
e)
Ao contrário dos mais jovens, a quem surpreenderão as ideias do autor, agradará aos mais velhos aboná-las como inteiramente naturais. |
Está plenamente adequada a correlação entre tempos e modos verbais na frase:
a)
Se a natureza não fosse tão caprichosa, seria bom que possamos ainda brincar nos jogos de calçada, com os quais tanto nos animáramos quando pequenos. |
b)
Quanto mais vivermos, mais remoçaremos, e um dia teremos chegado ao desfrute da liberdade de que gozávamos quando crianças. |
c)
Se o chão parece mais longe agora, dever-se-á isso ao fato de que nosso corpo começasse a se ressentir dos limites que nos impõem os muitos anos de vida. |
d)
Esperemos que esta mensagem viesse a contribuir para que todos os jovens que acreditassem na velhice possam mudar de opinião. |
e)
Melhor será se a morte não tivesse a má ideia de vir interromper nossa vida justamente quando estivermos desfrutando do esplendor da última juventude. |
Está plenamente adequada a pontuação da seguinte frase:
a)
O autor do texto sem dispensar o humor, defende um ponto de vista curioso, segundo o qual a velhice, normalmente uma idade temida, e estigmatizada, não passa de mais uma ilusão da juventude. |
b)
O autor do texto, sem dispensar o humor defende um ponto de vista curioso, segundo o qual a velhice normalmente, uma idade temida e estigmatizada não passa de mais uma ilusão, da juventude. |
c)
O autor do texto, sem dispensar o humor defende um ponto de vista, curioso, segundo o qual a velhice, normalmente uma idade, temida e estigmatizada, não passa de mais uma ilusão da juventude. |
d)
O autor do texto, sem dispensar o humor, defende um ponto de vista curioso, segundo o qual a velhice, normalmente uma idade temida e estigmatizada, não passa de mais uma ilusão da juventude. |
e)
O autor do texto, sem dispensar o humor, defende um ponto de vista curioso, segundo o qual, a velhice normalmente uma idade temida e estigmatizada, não passa de mais uma ilusão da juventude. |
Está plenamente adequado o emprego de ambos os segmentos sublinhados em:
I. Os anos da velhice, em cujo peso ninguém desacredita, parecem ao autor tão ou mais amenos quanto os da juventude.
II. O preço do passar dos anos, paga-lhe o corpo com os limites e carências de que passa a acusar, mas o espírito segue inabalável.
III. A despeito da má fama de que a velhice é vítima, vivê-la bem é preferível a aproveitar mal a mocidade.
Atende ao enunciado SOMENTE o que está em
a)
I. |
b)
II. |
c)
III. |
d)
I e II. |
e)
II e III. |
Ambas as frases admitem transposição para a voz passiva em:
a)
Não renego a mal afamada velhice e Alguém invejará os velhos? |
b)
Vou mais longe que você e A natureza tem seus caprichos. |
c)
O tempo brinca com a juventude e O passar dos anos não lhe fez mal. |
d)
Que os jovens acreditem em mim e Sinto-me mais moço do que ele. |
e)
A natureza não nos poupa e O espírito segue confiante. |
O mau emprego do elemento sublinhado torna incoerente a seguinte frase:
a)
Conquanto não tema a velhice, o autor não deixa de reconhecer os agravos físicos da idade. |
b)
Ele não teme a velhice, por mais que tantos se ponham a execrá-la. |
c)
Não obstante a decrepitude do corpo, o espírito ainda desfruta de todo o seu vigor. |
d)
Ele vê a velhice com simpatia, porquanto não sentiu envelhecer o espírito. |
e)
Louvo a velhice, a despeito de alguns verem nela algumas benesses. |
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