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Informações da Prova Questões por Disciplina Tribunal Regional Federal - 1.ª Região - Analista Judiciário - Apoio Especializado - Medicina (Clínica Médica) - FCC - Fundação Carlos Chagas - 2014 - Prova Objetiva

Língua Portuguesa

DEPOIMENTO

Fernando Morais (jornalista)

O que mais me surpreendia, na Ouro Preto da infância, não era o ouro dos altares das igrejas. Nem o casario português recortado contra a montanha. Isso eu tinha de sobra na minha própria cidade, Mariana, a uma légua dali. O espantoso em Ouro Preto era o Grande Hotel − um prédio limpo, reto, liso, um monólito branco que contrastava com o barroco sem violentá-lo. Era “o Hotel do Niemeyer”, diziam. Deslumbrado com a construção, eu acreditava que seu criador (que supunha chamar-se “Nei Maia”) fosse mineiro − um marianense, quem sabe?

A suspeita aumentou quando, ainda de calças curtas, mudei-me para Belo Horizonte. Era tanto Niemeyer que ele só podia mesmo ser mineiro. No bairro de Santo Antônio ficava o Colégio Estadual (a caixa d’água era o lápis, o prédio das classes tinha a forma de uma régua, o auditório era um mataborrão). Numa das pontas da vetusta Praça da Liberdade, Niemeyer fez pousar suavemente uma escultura de vinte andares de discos brancos superpostos, um edifício de apartamentos cujo nome não me vem à memória. E, claro, tinha a Pampulha: o cassino, a casa do baile, mas principalmente a igreja.

Com o tempo cresceram as calças e a barba, e saí batendo perna pelo mundo. E não parei de ver Niemeyer. Vi na França, na Itália, em Israel, na Argélia, nos Estados Unidos, na Alemanha. Tanto Niemeyer espalhado pelo planeta aumentou minha confusão sobre sua verdadeira origem. E hoje, quase meio século depois do alumbramento produzido pela visão do “Hotel do Nei Maia”, continuo sem saber onde ele nasceu. Mesmo tendo visto um papel que prova que foi na Rua Passos Manuel número 26, no Rio de Janeiro, estou convencido de que lá pode ter nascido o corpo dele. A alma de Oscar Niemeyer, não tenham dúvidas, é mineira.

(Adaptado de: MORAIS, Fernando. Depoimento. In: SCHARLACH,

Cecília (coord.). Niemeyer 90 anos: poemas testemunhos cartas.

São Paulo: Fundação Memorial da América Latina, 1998. p. n.º 29)

Considere o texto acima para responder à(s) questão(ões) a seguir

1 -

O sentido das palavras surpreendia e espantoso (ambas do primeiro parágrafo) é posteriormente retomado no texto pela palavra:

a)

suspeita.

b)

vetusta.

c)

suavemente.

d)

memória.

e)

alumbramento.

Pronomes
2 -

No contexto do texto, o autor utiliza os pronomes seu (no primeiro parágrafo) e sua (no último) para se referir, respectivamente, a:

a)

Nei Maia e Oscar Niemeyer.

b)

Grande Hotel e Oscar Niemeyer.

c)

Ouro Preto e Hotel do Nei Maia.

d)

Mariana e Rua Passos Manuel.

e)

Hotel do Niemeyer e Rio de Janeiro.

Língua Portuguesa
3 -

A afirmação do último parágrafo E não parei de ver Niemeyer, no contexto do texto, permite a pressuposição de que autor

a)

manteve contato pessoal com o arquiteto no exterior.

b)

revisitou o hotel construído pelo arquiteto em Mariana.

c)

encontrou diversas obras do arquiteto em suas viagens.

d)

comprovou em documentos a origem mineira do arquiteto.

e)

divulgou a beleza da obra do arquiteto no exterior.

4 -

No último parágrafo, as aspas são utilizadas para destacar o

a)

nome indevido que na infância o jornalista atribuía ao criador do prédio.

b)

apelido com que o arquiteto era conhecido em sua terra de origem.

c)

modo correto de se pronunciar o sobrenome do arquiteto.

d)

título do papel que prova o local de nascimento do jornalista.

e)

jeito correto de escrever o nome do hotel cinquenta anos antes.

O LIVRO

Jorge Luis Borges (escritor)

Dos diversos instrumentos utilizados pelo homem, o mais espetacular é, sem dúvida, o livro. Os demais são extensões de seu corpo. O microscópio, o telescópio, são extensões de sua visão; o telefone é a extensão de sua voz; em seguida, temos o arado e a espada, extensões de seu braço. O livro, porém, é outra coisa: o livro é uma extensão da memória e da imaginação.

Dediquei parte de minha vida às letras, e creio que uma forma de felicidade é a leitura. Outra forma de felicidade − menor − é a criação poética, ou o que chamamos de criação, mistura de esquecimento e lembrança do que lemos.

Devemos tanto às letras. Sempre reli mais do que li. Creio que reler é mais importante do que ler, embora para se reler seja necessário já haver lido. Tenho esse culto pelo livro. É possível que eu o diga de um modo que provavelmente pareça patético. E não quero que seja patético; quero que seja uma confidência que faço a cada um de vocês; não a todos, mas a cada um, porque “todos” é uma abstração, enquanto “cada um” é algo verdadeiro.

Continuo imaginando não ser cego; continuo comprando livros; continuo enchendo minha casa de livros. Há poucos dias fui presenteado com uma edição de 1966 da Enciclopédia Brockhaus. Senti sua presença em minha casa − eu a senti como uma espécie de felicidade. Ali estavam os vinte e tantos volumes com uma letra gótica que não posso ler, com mapas e gravuras que não posso ver. E, no entanto, o livro estava ali. Eu sentia como que uma gravitação amistosa partindo do livro. Penso que o livro é uma felicidade de que dispomos, nós, os homens.

(Adaptado de: BORGES, Jorge Luis. Cinco visões pessoais.

4. ed. Trad. de Maria Rosinda R. da Silva. Brasília: UnB, 2002. p. n.º 13 e 19)

Considere o texto acima para responder à(s) questão(ões)

5 -

No terceiro parágrafo, Borges justifica e reforça o motivo que o levou a dizer cada um, em vez de todos. No contexto, a diferença entre as duas expressões (cada um e todos) reside no contraste de sentido, respectivamente, entre:

a)

totalidade inclusiva e totalidade exclusiva.

b)

negação e afirmação.

c)

particularização e generalização.

d)

omissão de pessoa e presença de pessoa.

e)

nenhuma coisa e alguma coisa

6 -

No período É possível que eu o diga de um modo que provavelmente pareça patético, o autor utiliza os verbos dizer e parecer no presente do subjuntivo. Encontram-se estes mesmos tempo e modo verbais em:

a)

criação poética, ou o que chamamos de criação.

b)

mistura de esquecimento e lembrança do que lemos.

c)

quero que seja uma confidência.

d)

com uma letra gótica que não posso ler.

e)

uma felicidade de que dispomos.

7 -

Nos trechos O livro, porém, é outra coisa (do primeiro parágrafo) e reler é mais importante do que ler, embora para se reler seja necessário já haver lido (do terceiro), as conjunções, no contexto dos parágrafos, estabelecem, respectivamente, relação de

a)

causa e condição.

b)

consequência e finalidade.

c)

adição e temporalidade.

d)

oposição e concessão.

e)

proporção e contraste.

8 -

As alternativas apresentam trechos da entrevista que foi concedida por Jorge Luis Borges, em julho de 1985, ao jornalista Roberto D’Ávila. Borges morreria um ano depois. O trecho da entrevista que pode ser diretamente relacionado com as informações autobiográficas dadas no texto indicado para a leitura é:

a)

O fracasso e o sucesso são impostores. Ninguém fracassa tanto como imagina. Ninguém tem tanto sucesso como imagina. Além disso, o que importa o sucesso e o fracasso?

b)

Quando publico um livro, não sei se teve êxito, se está vendendo. O que disse a crítica. Meus amigos sabem que não devem falar do que escrevo.

c)

Nunca li um jornal na vida. Pra que lê-los? É tudo bobagem. Só falam de viagens de presidentes, congressos de escritores, partidas de futebol.

d)

Nasci aqui no centro de Buenos Aires: Rua Tucumán, quatro ou cinco quadras daqui. Toda a Buenos Aires era de casas baixas com terraços, pátios, campainhas manuais.

e)

Continuo a adquirir livros porque gosto de estar rodeado por eles. Como quando era menino, já que minhas primeiras lembranças são de livros e acho que minhas últimas o serão também.

Interpretação de Textos

QUANDO A CRASE MUDA O SENTIDO

Muitos deixariam de ver a crase como bicho-papão se pensassem nela como uma ferramenta para evitar ambiguidade nas frases.

Luiz Costa Pereira Junior

O emprego da crase costuma desconcertar muita gente. A ponto de ter gerado um balaio de frases inflamadas ou espirituosas de uma turma renomada. O poeta Ferreira Gullar, por exemplo, é autor da sentença “A crase não foi feita para humilhar ninguém”, marco da tolerância gramatical ao acento gráfico. O escritor Moacyr Scliar discorda, em uma deliciosa crônica “Tropeçando nos acentos”, e afirma que a crase foi feita, sim, para humilhar as pessoas; e o humorista Millôr Fernandes, de forma irônica e jocosa, é taxativo: “ela não existe no Brasil”.

O assunto é tão candente que, em 2005, o deputado João Herrmann Neto propôs abolir esse acento do português do Brasil por meio do projeto de lei 5.154, pois o considerava “sinal obsoleto, que o povo já fez morrer”. Bombardeado, na ocasião, por gramáticos e linguistas que o acusavam de querer abolir um fato sintático como quem revoga a lei da gravidade, Herrmann logo desistiu do projeto.

A grande utilidade do acento de crase no a, entretanto, que faz com que seja descabida a proposta de sua extinção por decreto ou falta de uso, é: crase é, antes de mais nada, um imperativo de clareza. Não raro, a ambiguidade se dissolve com a crase − em outras, só o contexto resolve o impasse. Exemplos de casos em que a crase retira a dúvida de sentido de uma frase, lembrados por Celso Pedro Luft no hoje clássico Decifrando a crase: cheirar a gasolina X cheirar à gasolina; a moça correu as cortinas X a moça correu às cortinas; o homem pinta a máquina X o homem pinta à máquina; referia-se a outra mulher X referia-se à outra mulher.

O contexto até se encarregaria, diz o autor, de esclarecer a mensagem; um usuário do idioma mais atento intui um acento necessário, garantido pelo contexto em que a mensagem se insere. A falta de clareza, por vezes, ocorre na fala, não tanto na escrita. Exemplos de dúvida fonética, sugeridos por Francisco Platão Savioli: “A noite chegou”; “ela cheira a rosa”; “a polícia recebeu a bala”. Sem o sinal diacrítico, construções como essas serão sempre ambíguas. Nesse sentido, a crase pode ser antes um problema de leitura do que prioritariamente de escrita.

(Adaptado de: PEREIRA Jr., Luiz Costa.

Revista Língua portuguesa, ano 4, n.º 48.

São Paulo: Segmento, outubro de 2009. p. n.º 36-38)

Considere o texto acima para responder à(s) questão(ões) a seguir.

9 -

Logo na abertura do texto, o autor destaca a importância da crase como uma ferramenta para evitar ambiguidade nas frases. Ideia semelhante é reafirmada no trecho:

a)

O emprego da crase costuma desconcertar muita gente.

b)

sinal obsoleto, que o povo já fez morrer.

c)

crase é, antes de mais nada, um imperativo de clareza.

d)

só o contexto resolve o impasse.

e)

A falta de clareza, por vezes, ocorre na fala.

Língua Portuguesa
10 -

Acerca dos exemplos utilizados nos dois últimos parágrafos para ilustrar o papel da crase na clareza e na organização das ideias de um texto, é correto afirmar:

a)

quando se escreve cheirar a gasolina, o sentido do verbo é de “feder"” ou "“ter cheiro de"”.

b)

em a polícia recebeu a bala, afirma-se que a polícia foi vitimada pelo tiro.

c)

na frase À noite chegou, "“noite"” assume função de sujeito do verbo chegar.

d)

no trecho a moça correu as cortinas, o verbo assume o sentido de "“seguir em direção a"”.

e)

em o homem pinta à máquina, diz-se que o objeto que está sendo pintado é a máquina.

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