TRE - Acre - Analista Judiciário - Judiciária - FCC - Fundação Carlos Chagas - 2010 - Prova Objetiva
Eleições antigas
Minhas primeiras memórias dos dias de eleição remontam ao primeiro ano primário, quando, do alto dos meus sete anos, admirava a profusão de cédulas de papel, que atulhavam as calçadas e as ruas, ou bailavam no ar, subitamente sacudidas por ventos que nunca faltaram, bem me lembro, nas ladeiras da minha cidade. Muito antes da votação eletrônica (confesso: antes mesmo de haver televisores nas casas), essas cédulas eram já os votos que o eleitor devia colocar na urna de sua seção eleitoral. Eu não entendia bem o motivo mesmo daqueles dias agitados, mas as crianças amam qualquer coisa que quebre a rotina. E um dia de eleição era um dia especial.
Gravações de falas, de slogans e de jingles de propaganda, que circulavam em carros armados com altofalantes, ajudavam a criar um clima festivo de feriado, embora nenhum menino atinasse exatamente com as razões cívicas de tanta balbúrdia. Anos mais tarde, com a seca de eleições durante os longos anos de ditadura, pude sentir de modo especial o significado daqueles dias.
Mas nem tudo era festa. Volta e meia irrompiam discussões, às vezes ásperas, entre simpatizantes de diferentes candidatos. Da janela de casa, em que todos os dias do ano gastava pelo menos uma hora “a espiar o movimento”, meu pai provocava amistosamente o vizinho do outro lado da rua, que tinha o mesmo hábito da janela: “O seu Ademar já perdeu...”. A resposta vinha na hora: “Veremos, veremos...”. Aprendi que esse “veremos” significava ficar muitas horas, nos dias seguintes, a acompanhar as apurações pelo rádio. Eu acabava torcendo, é claro, para o candidato de meu pai (que sempre era, também, o de minha mãe), embora não tivesse a menor ideia do que representaria de fato uma eventual vitória. Quando Juscelino se anunciou candidato, meu pai disse que não votaria numa pessoa com sobrenome “impronunciável”. Nem sempre ele se balizava por critérios eminentemente ideológicos.
Ainda acho, tantas décadas mais velho, muito especiais os dias de eleição. Alguma coisa daquela antiga festividade retorna, na animação que toma conta das cercanias das escolas onde se vota. Fico às vezes parado, ali por perto, depois de votar, olhando os meninos que brincam na rua, olhando as janelas das casas, onde às vezes há alguém debruçado, a espiar o movimento.
(Aristides Silvério, inédito)
No primeiro parágrafo, o autor justifica a força das experiências vividas nos dias de eleição por meio de um postulado genérico:
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a)
Minhas primeiras memórias (...) remontam ao primeiro ano primário (...). |
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b)
(...) essas cédulas eram já os votos que o eleitor devia colocar na urna de sua seção eleitoral. |
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c)
Eu não entendia bem o motivo mesmo daqueles dias agitados (...). |
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d)
(...) admirava a profusão de cédulas de papel, que atulhavam as calçadas e as ruas (...). |
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e)
(...) as crianças amam qualquer coisa que quebre a rotina. |
Atente para as seguintes afirmações:
I. No 2.º parágrafo, o autor afirma que suas primeiras experiências cívicas, de quando ainda era um menino, assemelham-se às que viveu ao longo da ditadura.
II. No 3.º parágrafo, a expressão critérios eminentemente ideológicos está definindo uma preocupação efetiva e permanente da maioria do eleitorado.
III. No 4.º parágrafo, o autor se vale de elementos das experiências presentes para reafirmar vivas impressões de seu passado.
Em relação ao texto, está correto APENAS o que se afirma em:
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a)
I. |
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b)
II. |
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c)
III. |
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d)
I e II. |
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e)
II e III. |
Considerando-se o contexto, traduz-se adequadamente o sentido de um segmento em:
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a)
atinasse exatamente com as razões (2.º parágrafo) = atentasse resolutamente para os motivos. |
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b)
provocava amistosamente (3.º parágrafo) = debelava com afabilidade. |
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c)
se balizava por critérios (3.º parágrafo) = permitia-se conduzir com denodo. |
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d)
eminentemente ideológicos (3.º parágrafo) = prontamente políticos. |
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e)
na animação que toma conta das cercanias (4.º parágrafo) = no entusiasmo que assalta as proximidades. |
O autor do texto vale-se, por vezes, do cotejo entre elementos do passado e elementos do presente, tal como ocorre entre os segmentos:
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a)
Minhas primeiras memórias e as crianças amam qualquer coisa que quebre a rotina. |
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b)
ajudavam a criar um clima festivo de feriado e pude sentir de modo especial o significado daqueles dias. |
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c)
Mas nem tudo era festa e Nem sempre ele se balizava por critérios eminentemente ideológicos. |
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d)
em que todos os dias do ano gastava pelo menos uma hora e onde às vezes há alguém debruçado. |
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e)
Fico às vezes parado, ali por perto e olhando os meninos que brincam na rua. |
Atente para as seguintes construções:
I. (confesso: antes mesmo de haver televisores nas casas).
II. Eu não entendia bem o motivo mesmo daqueles dias agitados.
III. meu pai provocava amistosamente o vizinho do outro lado da rua, que tinha o mesmo hábito.
Preserva-se o sentido dessas construções caso se substituam os elementos sublinhados, na ordem dada, por:
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a)
até, ainda assim e próprio. |
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b)
até, exato e igual. |
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c)
ainda assim, próprio e inclusive. |
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d)
inclusive, ainda assim e próprio. |
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e)
propriamente, exato e inclusive. |
Estão plenamente observadas as normas de concordância verbal na frase:
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a)
Sempre haverá esses mágicos canais da memória que nos transportam para situações antigas, quando as vem evocar alguma situação do presente. |
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b)
Votavam-se, nas antigas eleições, com as mesmas cédulas de papel que fartamente se distribuía entre os eleitores, às vezes ainda indecisos. |
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c)
Mas nem tudo era manifestações de entusiasmo, já que sempre tinham de haver alguns debates entre os eleitores, como os que estabeleciam meu pai com o vizinho. |
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d)
Tudo, desde os alto-falantes até os gritos da criançada, se somavam para que se guardasse daquela agitação algumas das lembranças mais vívidas da infância. |
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e)
Enquanto houverem parapeitos e janelas, não faltarão senhores e senhoras que ali se debrucem, cuidando para que não se perca quaisquer detalhes da rotina da rua. |
Está correto o emprego de seção, em seção eleitoral (1º parágrafo), assim como está correto o do termo sublinhado na frase:
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a)
A secção em que se deveria homenageá-lo foi adiada para a próxima semana. |
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b)
Ele se indispôs contra a seção de seus direitos em favor de tantos parentes e contraparentes. |
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c)
Na sessão para a qual foi indicado para assumir nova função, o chefe é reconhecidamente um intolerante. |
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d)
Não houve como obter dele a cessão de seu posto para um colega mais experiente. |
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e)
A sessão longitudinal dessa planta expôs os vestígios do parasita que a fez definhar. |
Mantêm-se a correção e a coerência da frase dada, ao se substituir o elemento sublinhado pelo que está entre parênteses, no seguinte caso:
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a)
Minhas primeiras memórias dos dias de eleição remontam ao primeiro ano primário (...) (integram-se com o) |
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b)
(...) essas cédulas eram já os votos que o eleitor devia colocar na urna (...) (representavam logo) |
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c)
(...) ajudavam a criar um clima festivo de feriado (...) (exaurir de um ar faustoso) |
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d)
(...) ficar muitas horas, nos dias seguintes, a acompanhar as apurações (...) (atentando para) |
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e)
(...) olhando as janelas das casas, onde às vezes há alguém debruçado (...) (em cujas eventualmente) |
Ainda acho, tantas décadas mais velho, muito especiais os dias de eleição.
É plenamente aceitável esta nova redação da frase acima:
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a)
Embora envelhecido por tantas décadas, ainda considero muito especiais os dias de eleição. |
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b)
Percebo, porquanto mais velho tantas décadas, como são muito especiais os dias de eleição. |
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c)
Mais velho tantas décadas, julgo-lhes ainda muito especiais, os dias de eleição. |
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d)
Por quanto já mais velho tantas décadas, vejo quão especiais são os dias de eleição. |
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e)
Acho ainda o quanto são especiais, mesmo mais velho por décadas, os dias de eleição. |
Está adequada a correlação entre tempos e modos verbais na seguinte construção:
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a)
Aquelas cédulas de papel eram as que o eleitor devesse utilizar na hora em que se dispusesse a votar. |
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b)
Não tardava muito para que começassem a irromper discussões entre os que simpatizavam com diferentes candidatos. |
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c)
À medida que eram divulgados, os resultados parciais das eleições teriam provocado as mais distintas reações. |
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d)
Meu pai achava que um candidato com aquele sobrenome não pudesse vir a exercer um cargo daquela relevância. |
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e)
Eu faria qualquer coisa para que a sensação daqueles dias de eleição possa ressurgir em mim, com a mesma força. |