Depois que se tinha fartado de ouro, o mundo teve fome de açúcar, mas o açúcar consumia escravos. O esgotamento das minas − que de resto foi precedido pelo das florestas que forneciam o combustível para os fornos −, a abolição da escravatura e, finalmente, uma procura mundial crescente, orientam São Paulo e o seu porto de Santos para o café. De amarelo, passando pelo branco, o ouro tornou-se negro.
Mas, apesar de terem ocorrido essas transformações que tornaram Santos num dos centros do comércio internacional, o local conserva uma beleza secreta; à medida que o barco penetra lentamente por entre as ilhas, experimento aqui o primeiro sobressalto dos trópicos. Estamos encerrados num canal verdejante. Quase podíamos, só com estender a mão, agarrar essas plantas que o Rio ainda mantinha à distância nas suas estufas empoleiradas lá no alto. Aqui se estabelece, num palco mais modesto, o contato com a paisagem.
O arrabalde de Santos, uma planície inundada, crivada de lagoas e pântanos, entrecortada por riachos estreitos e canais, cujos contornos são perpetuamente esbatidos por uma bruma nacarada, assemelha-se à própria Terra, emergindo no começo da criação. As plantações de bananeiras que a cobrem são do verde mais jovem e terno que se possa imaginar: mais agudo que o ouro verde dos campos de juta no delta do Bramaputra, com o qual gosto de o associar na minha recordação; mas é que a própria fragilidade do matiz, a sua gracilidade inquieta, comparada com a suntuosidade tranquila da outra, contribuem para criar uma atmosfera primordial.
Durante cerca de meia hora, rolamos por entre bananeiras, mais plantas mastodontes do que árvores anãs, com troncos plenos de seiva que terminam numa girândola de folhas elásticas por sobre uma mão de 100 dedos que sai de um enorme lótus castanho e rosado. A seguir, a estrada eleva-se até os 800 metros de altitude, o cume da serra. Como acontece em toda parte nessa costa, escarpas abruptas protegeram dos ataques do homem essa floresta virgem tão rica que para encontrarmos igual a ela teríamos de percorrer vários milhares de quilômetros para norte, junto da bacia amazônica.
Enquanto o carro geme em curvas que já nem poderíamos qualificar como “cabeças de alfinete”, de tal modo se sucedem em espiral, por entre um nevoeiro que imita a alta montanha de outros climas, posso examinar à vontade as árvores e as plantas estendendo-se perante o meu olhar como espécimes de museu.
(Adaptado de: LÉVI-STRAUSS, Claude. Tristes Trópicos. Coimbra, Edições 70, 1979, p. 82-3)
O excerto, que narra a passagem de Lévi-Strauss por Santos, rumo a São Paulo,
a)
representa com minúcia uma natureza que foi preservada graças ao desenvolvimento de Santos, impulsionado pelo cultivo do café. |
b)
descreve a natureza pujante da região, a despeito de seu desenvolvimento econômico, a ponto de recorrer a imagens de cunho religioso para melhor ilustrar seu ponto de vista. |
c)
tece juízo de valor a respeito do desenvolvimento econômico do Brasil, tendo como pano de fundo sua riqueza natural inexplorada. |
d)
compara a natureza litorânea de Santos à encontradiça junto ao leito do rio Bramaputra, com vistas a mostrar, paralelamente, o quão luxuriante é a natureza brasileira. |
e)
lamenta o comércio que teria destruído praticamente toda a beleza natural, reduzindo-a a pequenos e secretos lugares, observáveis apenas em expedições como a que conduzia. |
Em relação à primeira parte da frase, o segmento ... orientam São Paulo e o seu porto de Santos para o café (1.º parágrafo) expressa:
a)
finalidade. |
b)
causa. |
c)
decorrência. |
d)
conformidade. |
e)
proporcionalidade. |
No primeiro período do segundo parágrafo, as duas orações que não se subordinam a nenhuma outra contêm os seguintes verbos:
a)
conserva − experimento |
b)
terem ocorrido − conserva |
c)
tornaram − penetra |
d)
tornaram − experimento |
e)
conserva − penetra |
Considere as frases abaixo.
I. O segmento que se estende de uma planície inundada até uma bruma nacarada (3.º parágrafo) constitui explicação do termo antecedente, de maneira que poderia ser iniciado por "que é", sem prejuízo para o sentido.
II. Neste mesmo segmento, as vírgulas poderiam ser substituídas por ponto-e-vírgulas, uma vez que se trata de uma sequência de características atribuídas a um mesmo termo.
III. No mesmo período, a oração iniciada por emergindo pode tanto subordinar-se a assemelha-se como a Terra.
Está correto o que consta em
a)
III, apenas. |
b)
I, II e III. |
c)
I e II, apenas. |
d)
I e III, apenas. |
e)
II, apenas. |
A alteração da voz do verbo poder, nas duas vezes em que ocorre no último parágrafo, deverá resultar nas seguintes formas, respectivamente:
a)
se poderia − se pode |
b)
poder-se-ia − podem-se |
c)
poderiam-se − pode-se |
d)
se poderiam − podem-se |
e)
se poderiam − se pode |
Mantendo-se a correlação verbal na primeira frase do texto, a substituição de Depois que por "Caso", acarretará as seguintes mudanças nas formas verbais:
a)
fartasse − terá − iria consumir |
b)
fartara − tivera − consumira |
c)
teria fartado − teria tido − teria consumido |
d)
tenha fartado − terá − consumirá |
e)
tivesse fartado − teria − consumiria |
A oração ... de tal modo se sucedem em espiral... (último parágrafo):
a)
expressa a consequência da oração precedente, além de introduzir matiz de intensidade. |
b)
além de introduzir a causa da oração anterior, expressa certo grau de intensidade. |
c)
além de introduzir complemento de modo ou instrumento, expressa uma consequência. |
d)
expressa condição, aliada a certo grau de proporcionalidade. |
e)
expressa concessão, resultante de uma relação de proporcionalidade. |
As plantações de bananeiras que a cobrem... (3.º parágrafo)
... com troncos plenos de seiva que terminam numa girândola de folhas... (4.º parágrafo)
... que sai de um enorme lótus castanho e rosado... (4.º parágrafo)
Os pronomes sublinhados referem-se respectivamente a:
a)
bruma − seiva − mão |
b)
planície − troncos − mão |
c)
planície − troncos − dedos |
d)
Terra − seiva − mão |
e)
bruma − troncos − dedos |
Uma redação alternativa para o segmento ... mas é que a própria fragilidade do matiz, a sua gracilidade inquieta, comparada com a suntuosidade tranquila da outra, contribuem para criar uma atmosfera primordial (3.º parágrafo), sem prejuízo da correção e do sentido, está em:
a)
conquanto seja a fragilidade mesma do colorido, aliada à graciosidade fugaz, em contraposição à riqueza consolidada da outra, que contribui para a formação de um clima primaz. |
b)
não obstante a própria instabilidade da coloração, à sua gratuidade pode-se comparar o fausto despreocupado da outra, que contribui para instaurar um ambiente primevo. |
c)
todavia, é devido à própria fragilidade do tom − à sua graciosidade irrequieta − posta em paralelo com o fausto inabalável da outra, que contribui para inventar um ambiente primordial. |
d)
mas é, no entanto, a própria delicadeza do matiz, sua gratuidade inconstante, que, comparada ao luxo estável da outra, contribui para a conformação de um meio ambiente ancestral. |
e)
é, todavia, porque a própria fragilidade da coloração e a sua graciosidade instável, comparada ao fausto tranquilo da outra, contribuem para conformar uma ambientação primitiva. |
As orações reduzidas ... para encontrarmos igual a ela... (4.º parágrafo) e ... estendendo-se perante o meu olhar... (último parágrafo), no contexto em que ocorrem, podem ser distendidas da seguinte forma:
a)
para que tivéssemos encontrado igual a ela / de modo que se estendem perante o meu olhar |
b)
para que encontremos igual a ela / as quais se estendem perante o meu olhar |
c)
para que encontrássemos igual a ela / que se estendem perante o meu olhar |
d)
para que encontrássemos igual a ela / quando se estendem perante o meu olhar |
e)
para que encontremos igual a ela / desde que se estendam perante o meu olhar |
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