Em 1964, o cineasta Stanley Kubrick lançava o filme Dr. Strangelove. Nele, um oficial norte-americano ordena um bombardeio nuclear à União Soviética e comete suicídio em seguida, levando consigo o código para cancelar o bombardeio. O presidente norte-americano busca o governo soviético na esperança de convencê-lo de que o evento foi um acidente e, por isso, não deveria haver retaliação. É, então, informado de que os soviéticos implementaram uma arma de fim do mundo (uma rede de bombas nucleares subterrâneas), que funcionaria automaticamente quando o país fosse atacado ou quando alguém tentasse desacioná-la. O Dr. Strangelove, estrategista do presidente, aponta uma falha: se os soviéticos dispunham de tal arma, por que a guardavam em segredo? Por que não contar ao mundo? A resposta do inimigo: a máquina seria anunciada na reunião do partido na segunda-feira seguinte.
Pode-se analisar a situação criada no filme sob a ótica da Teoria dos Jogos: uma bomba nuclear é lançada pelo país A ao país B. A política de B consiste em revidar qualquer ataque com todo o seu arsenal, o qual pode destruir a vida no planeta, caso o país seja atacado. O raciocínio que leva B a adotar tal política é bastante simples: até o país mais fraco do mundo está seguro se criar uma máquina de destruição do mundo, ou seja, ao ter sua sobrevivência seriamente ameaçada, o país destrói o mundo inteiro (ou, em seu modo menos drástico, apenas os invasores). Ao elevar os custos para o país invasor, o detentor dessa arma garante sua segurança. O problema é que de nada adianta um país possuir tal arma em segredo. Seus inimigos devem saber de sua existência e acreditar na sua disposição de usá-la. O poder da máquina do fim do mundo está mais na intimidação do que em seu uso.
O conflito nuclear fornece um exemplo de uma das conclusões mais surpreendentes a que se chega com a Teoria dos Jogos. O economista Thomas Schelling percebeu que, apesar de o sucesso geralmente ser atribuído a maior inteligência, planejamento, racionalidade, entre outras características que retratam o vencedor como superior ao vencido, o que ocorre, muitas vezes, é justamente o oposto. Até mesmo o poder de um jogador, considerado, no senso comum, como uma vantagem, pode atuar contra seu detentor.
Schelling denominou brinkmanship (de brink, extremo) a estratégia de deliberadamente levar uma situação às suas consequências extremas.
Um exemplo usado por Schelling é o bem conhecido jogo do frango, que consiste em dois indivíduos acelerarem seus carros na direção um do outro em rota de colisão; o primeiro a virar o volante e sair da pista é o perdedor.
Se ambos forem reto, os dois jogadores pagam o preço mais alto com sua vida. No caso de os dois desviarem, o jogo termina em empate. Se um desviar e o outro for reto, o primeiro será o frango, e o segundo, o vencedor. Schelling propôs que um participante desse jogo retire o volante de seu carro e o atire para fora, fazendo questão de mostrá-lo a todas as pessoas presentes. Ao outro jogador caberia a decisão de desistir ou causar uma catástrofe. Um jogador racional optaria pelo que lhe causasse menos perdas, sempre perdendo o jogo.
Fabio Zugman.Teoria dos jogos. Internet: <www.iced.org.br> (com adaptações).
Com base no texto, assinale a opção correta.
a)
A leitura do final do 1.º parágrafo (L.7-8) permite inferir-se que "A resposta do inimigo" não foi dada em uma segunda-feira. |
b)
A expressão "à União Soviética" (L.2) é complemento da forma verbal "ordena" (L.1). |
c)
Acrescentando-se de que imediatamente após a conjunção "e" (L.3), o significado do período correspondente não seria alterado. |
d)
A expressão "por isso" (L.3) foi empregada com o sentido concessivo. |
e)
Mantém-se a correção gramatical do texto ao se substituir "convencê-lo de que" (L.3) por convencer-lhe que. |
Na linha 4, o verbo implementar, na forma verbal "implementaram", está sendo usado no sentido de:
a)
suprir de implementos. |
b)
solucionar. |
c)
demarcar. |
d)
distribuir estruturas em determinada área. |
e)
desenvolver ou produzir. |
Assinale a opção correta com relação às ideias do texto e às palavras e expressões nele empregadas.
a)
Se o trecho "não deveria haver retaliação" (L.4) estivesse flexionado no plural, a forma verbal "deveria" teria de ser substituída por deveriam. |
b)
O período "É então (...) desacioná-la" (L.4-6) esclarece que a informação dada ao presidente norte-americano era falsa. |
c)
Nas linhas 5 e 6, as orações introduzidas por "quando" permitem uma leitura em que são interpretadas como condição para que a "arma de fim do mundo" (L.4) funcione automaticamente. |
d)
No texto, não há como se identificar o sujeito da oração "Por que não contar ao mundo?" (L.7). |
e)
O complemento da palavra "inimigo" (L.7) está subentendido, artifício que evidencia que o autor do texto assumiu a perspectiva norte-americana segunda a qual a União Soviética é inimiga. |
Com relação às ideias e às estruturas linguísticas do texto, assinale a opção correta.
a)
No trecho "lançada pelo país A ao país B" (L.9-10), a substituição de "ao" por no altera o significado do texto, mas não a sua correção gramatical. |
b)
O trecho "adotar tal política" (L.11) tem, no texto, o sentido de "destruir a vida no planeta" (L.10). |
c)
Os "custos" a que o narrador se refere na linha 13 são os de se construir "uma arma de fim do mundo" (L.4). |
d)
No trecho "denominou brinkmanship (de brink, extremo) a estratégia" (L.22), o "a" deveria levar a marca gráfica de crase. |
e)
A pontuação do texto permaneceria correta se, no trecho "o primeiro a virar o volante e sair da pista é o perdedor" (L.25), fosse inserida uma vírgula logo após a palavra "pista". |
O sentido geral do texto e a sua correção gramatical seriam mantidos caso se substituísse a expressão "no senso comum" (L.20) por:
a)
geralmente. |
b)
apressadamente. |
c)
aproximadamente. |
d)
erroneamente. |
e)
precipuamente. |
Com base no texto, assinale a opção correta.
a)
Infere-se da leitura do texto que os soviéticos estavam a ponto de disparar a "arma de fim do mundo". |
b)
As expressões o primeiro a virar o volante e sair da pista perde e quem virar o volante e sair da pista perde estabeleceriam a mesma regra descrita no penúltimo parágrafo do texto para determinar o resultado do jogo do frango. |
c)
Conclui-se da leitura do texto que, em 1964, a capacidade nuclear da União Soviética era menor do que a norte-americana. |
d)
De acordo com a teoria de Schelling, a situação narrada no filme terminaria com a derrota soviética, se o governo daquele país se comportasse como um ser racional. |
e)
Segundo o texto, um oficial norte-americano propôs o emprego da estratégia denominada brinkmanship para desmoralizar politicamente o governo da União Soviética. |
1 Nenhuma figura é tão fascinante quanto o Falso
Entendido. É o cara que não sabe nada de nada, mas sabe
o jargão. E passa por autoridade no assunto. Um
4 refinamento ainda maior da espécie é o tipo que não sabe
nem o jargão. Mas inventa.
- Ó Matias, você, que entende de mercado de
7 capitais...
- Nem tanto, nem tanto...
(Uma das características do Falso Entendido é
10 a falsa modéstia.)
- Você, no momento, aconselharia que tipo de
aplicação?
13 - Bom. Depende do yield pretendido, do
throwback e do ciclo refratário. Na faixa de papéis top
market - ou o que nós chamamos de topi-marque -, o
16 throwback recai sobre o repasse e não sobre o release,
entende?
- Francamente, não.
19 Aí o Falso Entendido sorri com tristeza e abre
os braços como quem diz: "É difícil conversar com
leigos...".
22 Uma variação do Falso Entendido é o sujeito
que sempre parece saber mais do que ele pode dizer. A
conversa é sobre política, os boatos cruzam os ares, mas
25 ele mantém um discreto silêncio. Até que alguém pede a
sua opinião e ele pensa muito antes de se decidir a
responder:
28 - Há muito mais coisa por trás disso do que
vocês pensam...
Ou então, e esta é mortal:
31 - Não é tão simples assim...
Faz-se aquele silêncio que precede as grandes
revelações, mas o falso informado não diz nada. Fica
34 subentendido que ele está protegendo as suas fontes em
Brasília.
E há o Falso que interpreta. Para ele, tudo o que
37 acontece deve ser posto na perspectiva de vastas
transformações históricas que só ele está sacando.
- O avanço do socialismo na Europa ocorre
40 em proporção direta ao declínio no uso de gordura
animal nos países do Mercado Comum. Só não vê quem
não quer.
43 E, se alguém quer mais detalhes sobre a sua
insólita teoria, ele vê a pergunta como manifestação de
uma hostilidade bastante significativa a interpretações
46 não ortodoxas, e passa a interpretar os motivos de quem
o questiona, invocando a Igreja medieval, os grandes
hereges da história, e vocês sabiam que toda a Reforma
49 se explica a partir da prisão de ventre de Lutero?
Luis Fernando Verissimo. As mentiras que os homens
contam. Rio de Janeiro: Objetiva, 2000 (com adaptações).
A coerência e o sentido do texto seriam alterados caso a expressão "nada de nada" (L.2) fosse substituída por:
a)
nada sobre coisa alguma. |
b)
coisa alguma sobre coisa alguma. |
c)
absolutamente nada. |
d)
alguma coisa sobre nada. |
e)
nada sobre nada. |
Com base no texto, julgue os itens a seguir.
I. A substituição de "nem" (L.5) por sequer não altera essencialmente o significado do texto nem prejudica a sua correção gramatical.
II. A oração "que entende de mercado de capitais..." (L.6-7) é uma oração restritiva e restringe a referência de "Matias" (L.6).
III. No texto, o sentido de "Francamente, não" (L.18) é o mesmo de Não entendo de maneira franca.
IV. A expressão "ciclo refratário" (L.14) é um exemplo de nonsense usado pelo "Falso Entendido".
V. Pela leitura de "É difícil conversar com leigos" (L.20-21), conclui-se que o "Falso Entendido" (L.9) não se considera um leigo.
A quantidade de itens certos é igual a:
a)
1. |
b)
2. |
c)
3. |
d)
4. |
e)
5. |
Assinale a opção em que a reescritura proposta mantém o sentido e a correção gramatical do período "A conversa é sobre política, os boatos cruzam os ares, mas ele mantém um discreto silêncio" (L.23-25).
a)
Embora a conversa é sobre política e os boatos cruzam os ares, ele mantém um discreto silêncio. |
b)
A conversa é sobre política e os boatos cruzam os ares, apesar de ele manter um discreto silêncio. |
c)
A conversa é sobre política mas ele mantém um discreto silêncio, embora os boatos cruzam os ares. |
d)
A conversa é sobre política e, embora ele mantenha um discreto silêncio, os boatos cruzam os ares. |
e)
Apesar de a conversa ser sobre política e de os boatos cruzarem os ares, ele mantém um discreto silêncio. |
Com base no texto, assinale a opção correta.
(Questão anulada)
a)
A supressão do "se" em "antes de se decidir a responder" (L.26-27) preservaria a correção gramatical e o significado do período. |
b)
No trecho "Há muito mais coisa por trás disso" (L.28), se a palavra "coisa" estivesse no plural e o verbo haver estivesse no pretérito imperfeito, seria necessário reescrevê-lo da seguinte forma: Haviam muito mais coisas por trás disso. |
c)
Caso o autor do texto tivesse usado o ponto final no lugar das reticências em "- Não é tão simples assim..." (L.31), o efeito conseguido seria diferente do criado por estas. |
d)
O "falso informado" (L.33) é um subtipo ou uma variação do "Falso Entendido" (L.1-2). |
e)
Seria mais adequado ao texto substituir a expressão "sacando" (L.38) por um sinônimo como esperando. |
Copyright © Tecnolegis - 2010 - 2024 - Todos os direitos reservados.