Confesso que já estou cheio de me informar sobre o mundo. Pela TV, pelo rádio, pelos incontáveis canais da Internet, pelos celulares, pelos velhos jornais e revistas não param de chegar notícias, comentários, opiniões formadas. Essas manifestações me cercam, obrigam-me a tomar conhecimento de tudo, enlaçam-me numa rede de informações infinitas, não me deixam ignorar nenhum acontecimento, do assalto no bar da esquina aos confrontos no Oriente Médio. Gostaria de descansar os olhos e os ouvidos, daria tudo para que se calassem por algum tempo essas notícias invasoras, e me sobrasse tempo para não saber mais nada de nada...
Minha utopia é acordar num dia sem notícias, quando os únicos acontecimentos sensíveis fossem os da natureza e os do corpo: amanhecer, clarear, ventar, escurecer – e andar, olhar, ouvir, sentar, deitar, dormir. Parece pouco, mas é mais que muito: é impossível. É impossível fruir esse estado de contemplação – melhor dizendo: de pura e permanente percepção de si e do mundo. Até porque partiria de nós mesmos a violação desse estado: em algum momento nos cansaríamos e passaríamos a cogitar coisas, a avaliar, a imaginar, e estenderíamos nossa curiosidade para tudo o que estivesse próximo ou distante. Em suma: iríamos atrás de informações. Ficaríamos ávidos por notícias do mundo.
O ideal talvez fosse um meio termo: nem nos escravizarmos à necessidade de notícias, nem nos abandonarmos a um confinamento doentio. Mas o homem moderno sabe cada vez menos equilibrar-se entre os extremos. Nossa época, plena de novidades, não nos deixa descansar. Cada tela apagada, cada aparelho desligado parece espreitar-nos, provocando-nos: – Você sabe o que está perdendo?
Desconfio que estejamos perdendo a capacidade de nos distrairmos um pouco com nós mesmos, com nossa memória, com nossos desejos, com nossas expectativas. Bem que poderíamos acreditar que há, dentro de nós, novidades a serem descobertas, notícias profundas de nós, que pedem calma e silêncio para se darem a conhecer.
(Aristides Bianco, inédito)
O autor do texto mostra-se, fundamentalmente, insatisfeito com:
a)
o descaso com que os meios de comunicação veiculam informações. |
b)
a profusão de informações que nos fazem esquecer de nós mesmos. |
c)
a tendência moderna de valorizar em excesso as aptidões individuais. |
d)
o excesso de estímulos que nos levam a uma permanente autoavaliação. |
e)
a irrelevância da maioria das matérias que pesquisa na Internet. |
Considerando-se o contexto, traduz-se adequadamente o sentido de um segmento do texto em:
a)
um confinamento doentio = um nocivo insulamento. |
b)
equilibrar-se entre os extremos = amalgamar as polaridades. |
c)
rede de informações infinitas = cadeia de eventos intransmissíveis. |
d)
é impossível fruir = é impraticável deslizar. |
e)
parece espreitar-nos = simula divisar-nos. |
O autor vale-se da referência do assalto no bar da esquina aos confrontos do Oriente Médio para:
a)
acusar o sensacionalismo com que se avaliam fatos políticos. |
b)
ilustrar a frieza e a uniformidade com que se veiculam as notícias. |
c)
manifestar sua inconformada reação diante da violência urbana. |
d)
exemplificar a variação e a desproporção características dos noticiários. |
e)
referendar a combatividade das reportagens que denunciam os fatos. |
Atente para as seguintes afirmações:
I. No primeiro parágrafo, o autor mostra-se ressentido com o fato de que só lhe chegam notícias que não têm qualquer importância.
II. No segundo parágrafo, a utopia referida pelo autor diz respeito a seu desejo de ter pleno controle sobre os meios de comunicação modernos.
III. No terceiro parágrafo, o autor propõe, em substituição à utopia referida no parágrafo anterior, a postulação de um sensato equilíbrio.
Em relação ao texto, está correto o que se afirma em:
a)
II e III, apenas. |
b)
III, apenas. |
c)
I, II e III. |
d)
I e II, apenas. |
e)
I e III, apenas. |
No último parágrafo, o autor manifesta sua dúvida quanto à:
a)
importância do silêncio, de que brotam profundas revelações. |
b)
expectativa de que venhamos a saber filtrar as notícias do mundo. |
c)
possibilidade de interiorização e autoconhecimento do homem moderno. |
d)
existência de algo que valha a pena perscrutar dentro de nós. |
e)
capacidade de retenção de nossa memória pouco exercitada. |
Está plenamente adequada a correlação entre os tempos e modos verbais na frase:
a)
Só terá sido possível fruir esse estado de contemplação caso ficássemos concentrados em nós mesmos. |
b)
Por mais que nos informemos, o real sentido das notícias só se revela quando somos inteiramente senhores da nossa consciência crítica. |
c)
Quem se obriga a se informar o tempo todo acabaria por fartar-se de todas as notícias, sejam elas importantes ou não. |
d)
Ele não acreditaria se lhe dissermos que estivesse perdendo a capacidade de distrair-se consigo mesmo. |
e)
Seria preciso que acreditemos que há, dentro de nós, novidades que pedem calma e silêncio para se haverem dado a conhecer. |
Transpondo-se para a voz passiva a frase passaríamos a imaginar coisas, a forma verbal resultante será:
a)
teríamos passado a imaginar. |
b)
teriam passado a imaginar. |
c)
haveremos de passar a imaginar. |
d)
passariam a ser imaginadas. |
e)
passariam sendo imaginadas. |
Na penúltima linha do segundo parágrafo, a frase iríamos atrás de informação expressa uma justificativa para o fato que se afirma em:
a)
Minha utopia é esta: acordar num dia sem notícias (...) |
b)
(...) pura e permanente percepção de si e do mundo. |
c)
Parece pouco, mas é mais que muito. |
d)
O ideal talvez fosse um meio termo. |
e)
(...) partiria de nós mesmos a violação desse estado (...) |
No último parágrafo, o autor admite que:
a)
a paz e o silêncio deveriam ser as grandes novidades do mundo. |
b)
só é possível que nos solidarizemos se houver calma e silêncio. |
c)
há um tipo de notícias que seria muito proveitoso acessar. |
d)
não é de todo mau que nos envolvamos com as notícias do mundo. |
e)
seria preferível distrairmo-nos a ficarmos absortos em nós mesmos. |
O verbo indicado entre parênteses deverá flexionar-se numa forma do singular para preencher corretamente a lacuna da frase:
a)
As pessoas a quem ...... (impor) a TV, diuturnamente, notícias de toda espécie perdem a capacidade de discriminar o que é ou não importante. |
b)
As novidades que dentro de mim se ...... (mascarar) só se revelarão mediante uma análise introspectiva. |
c)
Aquele a quem ...... (sensibilizar) os fatos do noticiário deve poupar-se de acompanhá-los todos os dias. |
d)
Não ...... (dever) mover a ninguém as esperanças ou a crença em que o mundo se torne mais discreto e silencioso. |
e)
Em qualquer notícia que provenha do nosso íntimo não mais ...... (haver) de se ocultar as verdades que fingimos desconhecer. |
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