Desde tempos imemoriais, ao se deparar com a
imensa complexidade da natureza, o homem buscou
nela padrões repetitivos, algum tipo de ordem. Isso faz
muito sentido. Afinal, ao olharmos para os céus, vemos
5 que existem padrões organizados, movimentos
periódicos que se repetem, definindo ciclos naturais aos
quais estamos profundamente ligados: o nascer e o pôr
do Sol, as fases da Lua, as estações do ano, as órbitas
planetárias.
10 Com Pitágoras, 2.500 anos atrás, a busca por
uma ordem natural das coisas foi transformada numa
busca por uma ordem matemática: os padrões que
vemos na natureza refletem a matemática da criação.
Cabe ao filósofo desvendar esses padrões, revelando
15 assim os segredos do mundo.
Ademais, como o mundo é obra de um
arquiteto universal (não exatamente o Deus judaico-
cristão, mas uma divindade criadora mesmo assim),
desvendar os segredos do mundo equivale a desvendar a
20 "mente de Deus". Escrevi recentemente sobre como
essa metáfora permanece viva ainda hoje e é usada por
físicos como Stephen Hawking e muitos outros.
Essa busca por uma ordem matemática da
natureza rendeu - e continua a render - muitos frutos.
25 Nada mais justo do que buscar uma ordem oculta que
explica a complexidade do mundo. Essa abordagem é o
cerne do reducionismo, um método de estudo baseado
na ideia de que a compreensão do todo pode ser
alcançada através do estudo das suas várias partes.
30 Os resultados dessa ordem são expressos
através de leis, que chamamos de leis da natureza. As
leis são a expressão máxima da ordem natural. Na
realidade, as coisas não são tão simples. Apesar da sua
óbvia utilidade, o reducionismo tem suas limitações.
35 Existem certas questões, ou melhor, certos sistemas, que
não podem ser compreendidos a partir de suas partes. O
clima é um deles; o funcionamento da mente humana é
outro.
Os processos bioquímicos que definem os seres
40 vivos não podem ser compreendidos a partir de leis
simples, ou usando que moléculas são formadas de
átomos. Essencialmente, em sistemas complexos, o todo
não pode ser reduzido às suas partes.
Comportamentos imprevisíveis emergem das
45 inúmeras interações entre os elementos do sistema. Por
exemplo, a função de moléculas com muitos átomos,
como as proteínas, depende de como elas se "dobram",
isto é, de sua configuração espacial. O funcionamento do
cérebro não pode ser deduzido a partir do
50 funcionamento de 100 bilhões de neurônios.
Sistemas complexos precisam de leis diferentes,
que descrevem comportamentos resultantes da
cooperação de muitas partes. A noção de que a natureza
é perfeita e pode ser decifrada pela aplicação sistemática
55 do método reducionista precisa ser abolida. Muito mais
de acordo com as descobertas da ciência moderna é que
devemos adotar uma abordagem múltipla, e que junto
ao reducionismo precisamos utilizar outros métodos
para lidar com sistemas mais complexos. Claro, tudo
60 ainda dentro dos parâmetros das ciências naturais, mas
aceitando que a natureza é imperfeita e que a ordem
que tanto procuramos é, na verdade, uma expressão da
ordem que buscamos em nós mesmos.
É bom lembrar que a ciência cria modelos que
65 descrevem a realidade; esses modelos não são a
realidade, só nossas representações dela. As "verdades"
que tanto admiramos são aproximações do que de fato
ocorre.
As simetrias jamais são exatas. O surpreendente
70 na natureza não é a sua perfeição, mas o fato de a
matéria, após bilhões de anos, ter evoluído a ponto de
criar entidades capazes de se questionarem sobre a sua
existência.
(Marcelo Gleiser. Folha de S.Paulo, 14 de março de 2010)
Com base na leitura atenta do texto acima, é correto afirmar que:
a)
os sistemas criados pela ciência são perfeitos, ao contrário dos sistemas criados pela natureza, que nunca podem ser reduzidos a explicações matemáticas, embora criem uma simetria da perfeição que o homem busca em si mesmo. |
b)
a noção de simetria na natureza não existe mais, pois o todo não mais explica a parte, depois de anos de evolução e atuação do homem sobre o mundo natural. |
c)
os modelos criados com base nas repetições cíclicas do mundo natural deram origem ao reducionismo, capaz de explicar em termos matemáticos a relação entre átomos e moléculas, por exemplo. |
d)
a imperfeição da natureza proposta pelo reducionismo coloca em xeque a dinâmica do arquiteto universal, não concebido como o Deus judaico-cristão, mas como uma metáfora da criação. |
e)
na tentativa de explicar o mundo em sua perfeição, o homem deve admitir que o reducionismo precisa se conjugar com outras formas de interpretação para analisar a complexidade e a imperfeição de certos sistemas. |
Ademais, como o mundo é obra de um arquiteto universal (não exatamente o Deus judaico-cristão, mas uma divindade criadora mesmo assim), desvendar os segredos do mundo equivale a desvendar a "mente de Deus". (L.16-20)
O termo destacado no trecho acima pode ser substituído, sem prejuízo de sentido, por:
a)
Além do mais. |
b)
Entretanto. |
c)
Conquanto. |
d)
Portanto. |
e)
Consequentemente. |
O clima é um deles; o funcionamento da mente humana é outro. (L.36-38)
Assinale a alternativa que, ao se ocultar a segunda ocorrência do verbo, tenha apresentado pontuação mais adequada, tendo em vista a clareza e a boa discursividade.
a)
O clima é um deles, o funcionamento da mente humana outro. |
b)
O clima é um deles; o funcionamento da mente humana, outro. |
c)
O clima é um deles, o funcionamento da mente humana, outro. |
d)
O clima é um deles; o funcionamento da mente humana; outro. |
e)
O clima é um deles, o funcionamento da mente humana; outro. |
Essa abordagem é o cerne do reducionismo, um método de estudo baseado na ideia de que a compreensão do todo pode ser alcançada através do estudo das suas várias partes. (L.26-29)
Assinale o termo que, no período acima, desempenhe função sintática idêntica à do termo sublinhado no mesmo período.
a)
do reducionismo |
b)
de estudo |
c)
do estudo |
d)
através do estudo |
e)
das suas várias partes |
É bom lembrar que a ciência cria modelos que descrevem a realidade; esses modelos não são a realidade, só nossas representações dela. As "verdades" que tanto admiramos são aproximações do que de fato ocorre. (L.64-68)
As ocorrências do QUE no período acima classificam-se corretamente como:
a)
conjunção - pronome relativo - pronome relativo - pronome relativo |
b)
conjunção - pronome relativo - conjunção - conjunção |
c)
conjunção - pronome relativo - pronome relativo - conjunção |
d)
pronome relativo - conjunção - pronome relativo - conjunção |
e)
pronome relativo - conjunção - pronome relativo - pronome relativo |
Muito mais de acordo com as descobertas da ciência moderna é que devemos adotar uma abordagem múltipla, e que junto ao reducionismo precisamos utilizar outros métodos para lidar com sistemas mais complexos. (L.55-59)
Assinale a alternativa em que se manteve adequação gramatical ao se reescrever o período acima.
a)
Muito mais de acordo com as descobertas da ciência moderna é que se deve adotar uma abordagem múltipla, e, junto ao reducionismo precisa-se utilizar outros métodos para se lidarem com sistemas mais complexos. |
b)
Muito mais de acordo com as descobertas da ciência moderna deve-se adotar uma abordagem múltipla, e que, junto ao reducionismo, precisa-se utilizar outros métodos para se lidar com sistemas mais complexos. |
c)
Muito mais de acordo com as descobertas da ciência moderna, devem-se adotar uma abordagem múltipla, e junto ao reducionismo precisam-se utilizar outros métodos para se lidar com sistemas mais complexos. |
d)
Muito mais de acordo com as descobertas da ciência moderna é que se deve adotar uma abordagem múltipla, e que junto ao reducionismo se precisam utilizar outros métodos para se lidarem com sistemas mais complexos. |
e)
Muito mais de acordo com as descobertas da ciência moderna, deve-se adotar uma abordagem múltipla, e, junto ao reducionismo, precisa-se utilizar outros métodos para se lidar com sistemas mais complexos. |
Com Pitágoras, 2.500 anos atrás, a busca por uma ordem natural das coisas foi transformada numa busca por uma ordem matemática: os padrões que vemos na natureza refletem a matemática da criação. Cabe ao filósofo desvendar esses padrões, revelando assim os segredos do mundo. (L.10-15)
Em relação ao trecho acima, analise as afirmativas a seguir:
I. O pronome esses tem valor anafórico.
II. No lugar de 2.500 anos atrás, é recomendado que se escreva "há 2.500 anos atrás".
III. Os dois-pontos têm a mesma função que a desempenhada no primeiro parágrafo.
IV. A palavra assim poderia vir entre vírgulas.
Assinale:
a)
se apenas as afirmativas I e II estiverem corretas. |
b)
se apenas as afirmativas II e III estiverem corretas. |
c)
se apenas as afirmativas II e IV estiverem corretas. |
d)
se apenas as afirmativas I e IV estiverem corretas. |
e)
se apenas a afirmativa III estiver correta. |
Os resultados dessa ordem são expressos através de leis, que chamamos de leis da natureza. (L.30-31)
Assinale a alternativa em que a alteração do trecho sublinhado acima, independentemente da relação semântica estabelecida, NÃO tenha sido feita de acordo com as regras gramaticais.
a)
...a que nos referimos como leis da natureza. |
b)
...de que nos lembramos sempre. |
c)
...cujo entendimento necessitamos. |
d)
...a cujos princípios aludimos. |
e)
...em que nos baseamos. |
Com base no Manual de Redação da Presidência da República, analise as afirmativas a seguir:
I. A linguagem técnica deve ser empregada apenas em situações que a exijam, devendo-se evitar o seu uso indiscriminado. Certos rebuscamentos acadêmicos, e mesmo o vocabulário próprio a determinada área, são de difícil entendimento por quem não esteja com eles familiarizado. Deve-se ter o cuidado, portanto, de explicitá-los em comunicações encaminhadas a outros órgãos da administração e em expedientes dirigidos aos cidadãos.
II. A clareza deve ser a qualidade básica de todo texto oficial. Pode-se definir como claro aquele texto que possibilita imediata compreensão pelo leitor. No entanto, a clareza não é algo que se atinja por si só: ela depende estritamente das demais características da redação oficial. Para ela concorrem a impessoalidade, que evita a duplicidade de interpretações que poderia decorrer de um tratamento personalista dado ao texto; o uso do padrão culto de linguagem, em princípio, de entendimento geral e por definição avesso a vocábulos de circulação restrita, como a gíria e o jargão; a formalidade e a padronização, que possibilitam a imprescindível uniformidade dos textos; a concisão, que faz desaparecer do texto os excessos linguísticos que nada lhe acrescentam.
III. Fica dispensado o emprego do superlativo ilustríssimo para as autoridades que recebem o tratamento de Vossa Senhoria e para particulares. É suficiente o uso do pronome de tratamento Senhor. Doutor não é forma de tratamento, e sim título acadêmico. Deve-se evitar usá-lo indiscriminadamente. Como regra geral, deve-se empregá-lo apenas em comunicações dirigidas a pessoas que tenham tal grau por terem concluído curso universitário de doutorado. É costume designar por doutor os bacharéis, especialmente os bacharéis em Direito e em Medicina. Nos demais casos, o tratamento Senhor confere a desejada formalidade às comunicações.
Assinale:
a)
se somente as afirmativas I e III estiverem corretas. |
b)
se todas as afirmativas estiverem corretas. |
c)
se somente as afirmativas II e III estiverem corretas. |
d)
se somente as afirmativas I e II estiverem corretas. |
e)
se nenhuma afirmativa estiver correta. |
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