Nas ilhas Mascarenhas − Maurício, Reunião e Rodriguez −, localizadas a leste de Madagáscar, no oceano Índico, muitas espécies de pássaros desapareceram como resultado direto ou indireto da atividade humana. Mas aquela que é o protótipo e a tataravó de todas as extinções também ocorreu nessa localidade, com a morte de todas as espécies de uma família singular de pombos que não voavam − o solitário da ilha Rodriguez, visto pela última vez na década de 1790; o solitário da ilha Reunião, desaparecido por volta de 1746; e o célebre dodô da ilha Maurício, encontrado pela última vez no início da década de 1680 e quase certamente extinto antes de 1690.
Os volumosos dodôs pesavam mais de vinte quilos. Uma plumagem cinza-azulada cobria seu corpo quadrado e de pernas curtas, em cujo topo se alojava uma cabeça avantajada, sem penas, com um bico grande de ponta bem recurvada. As asas eram pequenas e, ao que tudo indica, inúteis (pelo menos no que diz respeito a qualquer forma de voo). Os dodôs punham apenas um ovo de cada vez, em ninhos construídos no chão.
Que presa poderia revelar-se mais fácil do que um pesado pombo gigante incapaz de voar? Ainda assim, provavelmente não foi a captura para o consumo pelo homem o que selou o destino do dodô, pois sua extinção ocorreu sobretudo pelos efeitos indiretos da perturbação humana. Os primeiros navegadores trouxeram porcos e macacos para as ilhas Mascarenhas, e ambos se multiplicaram de maneira prodigiosa. Ao que tudo indica, as duas espécies se regalaram com os ovos do dodô, alcançados com facilidade nos ninhos desprotegidos no chão − e muitos naturalistas atribuem um número maior de mortes à chegada desses animais do que à ação humana direta. De todo modo, passados os primeiros anos da década de 1680, ninguém jamais voltou a ver um dodô vivo na ilha Maurício. Em 1693, o explorador francês Leguat, que passou vários meses no local, empenhou-se na procura dos dodôs e não encontrou nenhum.
(Extraído de Stephen Jay Gould. “O Dodô na corrida de comitê”, A montanha de moluscos de Leonardo da Vinci. São Paulo, Cia. das Letras, 2003, pp. 286-8)
Mas aquela que é o protótipo e a tataravó de todas as extinções também ocorreu nessa localidade... (1.º parágrafo)
A frase transcrita deve ser entendida como indicação de que a extinção das espécies de pombos que não voavam das ilhas Mascarenhas:
a)
seria um modelo a ser utilizado pelos homens no futuro, quando decididos a erradicar espécies inúteis ou prejudiciais. |
b)
é uma das primeiras extinções de animais vinculadas à ação direta ou indireta dos homens de que se tem notícia. |
c)
teria ocorrido muito tempo antes do verdadeiro início da extinção de espécies por conta de ações humanas diretas ou indiretas. |
d)
é um episódio tão antigo na história das relações entre homens e animais que pode ser considerado singular e ultrapassado. |
e)
deu origem a um padrão para as futuras extinções de animais, que estariam sempre ligadas à colonização humana de novas terras. |
As asas eram pequenas e, ao que tudo indica, inúteis... (2.º parágrafo)
Ao que tudo indica, as duas espécies se regalaram com os ovos do dodô, alcançados com facilidade nos ninhos desprotegidos no chão... (último parágrafo)
A expressão grifada nas frases acima transcritas deixa transparecer, em relação às afirmações feitas:
a)
a sua comprovação científica irrefutável. |
b)
a certeza absoluta que o autor quer partilhar com o leitor. |
c)
o receio do autor ao formular um paradoxo. |
d)
a sua pequena probabilidade. |
e)
o seu caráter de hipótese bastante provável. |
Estão empregados no texto com idêntica regência os verbos grifados em:
a)
Os dodôs punham... (2.º parágrafo) / ... sua extinção ocorreu... (último parágrafo) |
b)
... muitas espécies de pássaros desapareceram... (1.º parágrafo) / Os primeiros navegadores trouxeram... (último parágrafo) |
c)
Uma plumagem cinza-azulada cobria... (2.º parágrafo) / ... e não encontrou nenhum. (último parágrafo) |
d)
Os volumosos dodôs pesavam ... (2.º parágrafo) / ... não foi a captura... (último parágrafo) |
e)
... a tataravó de todas as extinções também ocorreu... (1.º parágrafo) / ... e muitos naturalistas atribuem... (último parágrafo) |
Ainda assim, provavelmente não foi a captura para o consumo pelo homem o que selou o destino do dodô, pois sua extinção ocorreu sobretudo pelos efeitos indiretos da perturbação humana.
Os elementos grifados na frase podem ser substituídos, sem prejuízo para o sentido e a correção, respec- tivamente, por:
a)
Contudo - não obstante. |
b)
Conquanto - por que. |
c)
Em que pese isso - embora. |
d)
Apesar disso - visto que. |
e)
Por isso - porquanto. |
O segmento cujo sentido está corretamente expresso em outras palavras é:
a)
se multiplicaram de maneira prodigiosa = cresceram ilusoriamente. |
b)
as duas espécies se regalaram = os dois gêneros se empanturraram. |
c)
uma família singular = um conjunto variegado. |
d)
que selou o destino = que indigitou a fatalidade. |
e)
empenhou-se na procura = dedicou-se com afinco à busca. |
Leia as afirmações sobre a pontuação utilizada no texto.
I. Em - Maurício, Reunião e Rodriguez -, os travessões poderiam ser substituídos por parênteses, sem prejuízo para o sentido e a coesão da frase.
II. O travessão empregado imediatamente depois de voavam (1.º parágrafo) pode ser substituído por dois pontos, sem prejuízo para o sentido e a coesão da frase.
III. Em o explorador francês Leguat, que passou vários meses no local, empenhou-se na procura dos dodôs, a retirada das vírgulas não implica prejuízo para o sentido e a correção da frase.
Está correto o que se afirma em:
a)
I, apenas. |
b)
I e II, apenas. |
c)
II e III, apenas. |
d)
III, apenas. |
e)
I, II e III. |
As lavadeiras de Moçoró, cada uma tem sua pedra no rio; cada pedra é herança de família, passando de mãe a filha, de filha a neta, como vão passando as águas no tempo. As pedras têm um polimento que revela a ação de muitos dias e muitas lavadeiras. Servem de espelho a suas donas. E suas formas diferentes também correspondem de certo modo à figura física de quem as usa. Umas são arredondadas e cheias, aquelas magras e angulosas, e todas têm ar próprio, que não se presta a confusão.
na pobA lavadeira e a pedra formam um ente especial, que se divide e se unifica ao sabor do trabalho. Se a mulher entoa uma canção, percebe-se que a pedra a acompanha em surdina. Outras vezes, parece que o canto murmurante vem da pedra, e a lavadeira lhe dá volume e desenvolvimento.
Na pobreza natural das lavadeiras, as pedras são uma fortuna, jóias que elas não precisam levar para casa. Ninguém as rouba, nem elas, de tão fiéis, se deixariam seduzir por estranhos.
Obs.: manteve-se a grafia original, constante da obra citada.
(Carlos Drummond de Andrade. Contos plausíveis, in Prosa Seleta. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2003, p.128)
Evidencia-se no texto:
a)
a presença da pedra como símbolo da rotina pesada de uma vida sem perspectivas de melhora da maioria das mulheres brasileiras. |
b)
o primitivismo das condições de trabalho em alguns lugares, que impede a necessária alteração dos costumes familiares. |
c)
a extrema pobreza em que vivem muitas famílias brasileiras, sem qualquer condição de sobrevivência mais digna. |
d)
a associação íntima e até mesmo afetiva entre ser humano e elemento da natureza, identificados por um tipo de trabalho diário. |
e)
a identificação entre o rio e a pedra, prefigurando os obstáculos sociais que impedem a ascensão econômica de muitos brasileiros. |
Umas são arredondadas e cheias, aquelas magras e angulosas, e todas têm ar próprio, que não se presta a confusão. (1.º parágrafo)
A relação semântica existente entre as expressões grifadas na afirmativa é percebida também entre os dois elementos grifados em:
a)
que revela a ação de muitos dias e muitas lavadeiras. |
b)
um ente especial, que se divide e se unifica ao sabor do trabalho. |
c)
a pedra a acompanha em surdina... parece que o canto murmurante vem da pedra. |
d)
e a lavadeira lhe dá volume e desenvolvimento. |
e)
as pedras são uma fortuna, jóias que elas não precisam levar para casa. |
Considere as observações seguintes sobre a associação de palavras no texto e o sentido decorrente dessa associação:
I. No segmento passando de mãe a filha, de filha a neta, como vão passando as águas no tempo há uma comparação, que associa a transmissão de costumes ao fluxo das águas do rio.
II. As referências às pedras, especialmente no 2.º parágrafo, atribuem a elas qualidades humanas.
III. Na frase Servem de espelho a suas donas é possível entender o sentido literal, como referência ao reflexo da água sobre as pedras, e o sentido contextual, como identidade e cumplicidade entre a mulher e a pedra.
Está correto o que se afirma em:
a)
II, apenas. |
b)
I e II, apenas. |
c)
I e III, apenas. |
d)
II e III, apenas. |
e)
I, II e III. |
Esta minha estatuazinha de gesso, quando nova - O gesso muito branco, as linhas muito puras - Mal sugeria imagem de vida (Embora a figura chorasse). Há muitos anos tenho-a comigo. O tempo envelheceu-a, carcomeu-a, manchou-a de pátina [amarelo-suja. Os meus olhos, de tanto a olharem, Impregnaram-na da minha humanidade irônica de tísico. Um dia mão estúpida Inadvertidamente a derrubou e partiu. Então ajoelhei com raiva, recolhi aqueles tristes fragmentos, [recompus a figurinha que chorava. E o tempo sobre as feridas escureceu ainda mais o sujo [mordente da pátina... Hoje este gessozinho comercial É tocante e vive, e me fez agora refletir Que só é verdadeiramente vivo o que já sofreu.
Manuel Bandeira
A ação do tempo sobre a estátua de gesso é vista pelo poeta como:
a)
o que acabou por torná-la mais vivaz e expressiva, pelo menos até que um acidente a fizesse perder essa vivacidade. |
b)
responsável por danos que levaram uma obra de arte a perder sua pureza e vivacidade originais. |
c)
um elemento que, juntamente com os danos causados por um acidente, dá vida e singularidade ao que era inexpressivo e vulgar. |
d)
o causador irremediável do envelhecimento das coisas e da consequente desvalorização dos objetos pessoais mais valiosos. |
e)
capaz de transformar um simples objeto comercial em uma obra de arte que parece ter sido criada por um escultor genial. |
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