Pode-se assistir a mais de um comercial na TV em que se explora a imagem de “velhinhas modernas”, ou seja, senhoras idosas que falam gíria de surfista, dominam a linguagem dos computadores ou denunciam com malícia juvenil a atitude conservadora de algum jovem. Tais velhinhas em geral surgem vestidas à antiga – o que ressalta ainda mais a inesperada demonstração de “modernidade” de que são capazes.
Certo, não há mesmo por que identificar a velhice com estagnação da vida, asilo e melancolia. Mas por que identificála com o seu contrário? Isso equivale a sair de um estereótipo para cair em outro: em vez de se passar a imagem de uma pessoa acomodada e incapaz, resignada numa cadeira de balanço ou num sofá, busca-se a imagem padrão do adolescente para “salvar” a velhice de seus limites naturais. Parece que a dificuldade está em aceitar as qualidades que são efetivamente próprias de uma pessoa já bastante vivida: experiência, sabedoria, maturação, generosidade, capacidade de compreensão. Tais atributos parecem estar em baixa na cotação do mercado publicitário: jovens vendem, e velhos podem vender se forem tão ou mais “modernos” do que os jovens. O resultado, como não poderia deixar de ser, é uma caricatura: a vovó fala palavrões que escandalizam a adolescente, a vovó é mais maliciosa que a neta. Em suma: o melhor de viver bastante é poder chegar à velhice exatamente como aquele que está começando a viver...
Antes de se classificar tais comerciais como tolos, melhor será pensar na razão mesma de existirem. Não foram criados a partir do nada: correspondem a uma supervalorização da juventude, que é um fenômeno do nosso tempo. Desde que se descobriu que as crianças e os adolescentes constituem uma fatia considerável do consumo, investe-se muito na conquista desse público – o que significa potenciar os valores que nele se representam. Já os aposentados não terão tão grande atrativo. Como se vê, a cultura moderna incorpora cada vez mais drasticamente as qualidades que ao mercado interessa ressaltar. A velhice passa a não ter rosto: colocaram-lhe a máscara risonha de um jovem deslumbrado.
(Horácio Valongo dos Reis, inédito)
A expressão que dá título ao texto tem origem no fato de que:
a)
os velhos de hoje buscam o tempo todo assimilar os defeitos dos jovens. |
b)
os jovens de hoje só aceitam os velhos que a eles buscam se assemelhar. |
c)
o interesse comercial acaba por desfigurar as qualidades dos velhos. |
d)
o interesse comercial vê jovens e velhos como grandes consumidores. |
e)
o interesse comercial estende as qualidades de um velho ao mundo jovem. |
O autor faz crer que os velhos devem ser respeitados por conta:
a)
de suas naturais limitações emocionais e físicas. |
b)
de sua capacidade de adaptação aos valores da moda. |
c)
de sua significativa inserção no mundo do consumo. |
d)
dos atributos associados à aquisição de experiência. |
e)
dos valores juvenis que são capazes de incorporar. |
O elemento sublinhado na frase:
a)
Mas por que identificá-la com o seu contrário? (2.º parágrafo) refere-se ao termo anterior estagnação. |
b)
Tais atributos parecem estar em baixa na cotação do mercado publicitário (2.º parágrafo) refere-se às qualidades dos que têm a missão de "salvar" a velhice de seus limites naturais. |
c)
Antes de se classificar tais comerciais como tolos (3.º parágrafo) refere-se aos comerciais que buscam evitar a caricatura. |
d)
(...) investe-se muito na conquista desse público (3.º parágrafo) refere-se a aposentados. |
e)
(...) colocaram-lhe a máscara risonha de um jovem deslumbrado (3.º parágrafo) refere-se a quem também se caracteriza em passa a não ter rosto. |
De acordo com o último parágrafo, deve-se entender que valores culturais e leis do mercado:
a)
são indissociáveis, sobretudo no quadro da modernidade. |
b)
se dissociam, quando se trata de superestimar a juventude. |
c)
se dissociam, quando se trata de superestimar a velhice. |
d)
são indissociáveis, já que a cultura determina o que é valor comercial. |
e)
são indissociáveis, pois essa é uma relação histórica imutável. |
Considerando-se o contexto, traduz-se adequadamente o sentido de um segmento em:
a)
com malícia juvenil (1.º parágrafo) = em jovial discernimento. |
b)
o que ressalta ainda mais (1.º parágrafo) = o que coloca em ainda maior evidência. |
c)
estagnação da vida (2.º parágrafo) = subestimação vital. |
d)
sair de um estereótipo (2.º parágrafo) = evitar um padrão aceitável. |
e)
fatia considerável do consumo (3.º parágrafo) = aspecto vivo do comércio. |
Está plenamente adequada a concordância verbal da frase:
a)
Não se debitem às velhinhas a culpa por essas imagens fabricadas. |
b)
O excesso de jovialidade faz parecerem caricaturas essas velhinhas. |
c)
A poucas pessoas parecem incomodar essa abordagem indigna da velhice. |
d)
Devem-se a tais comerciais o fortalecimento dos valores juvenis. |
e)
Atribuem-se aos genuínos valores da velhice pouquíssima importância. |
Está adequada a correlação entre tempos e modos verbais na frase:
a)
Caso não se explorasse tanto a imagem das "velhinhas modernas", poder-se-ia ressaltar o peso específico da experiência dos mais velhos. |
b)
Quem quisesse classificar tais comercias como tolos, deverá antes entender o que os tinha motivado. |
c)
Uma vez descoberta a importância dos jovens como consumidores, passara a ser imprescindível cultivar seus valores. |
d)
Ao contrário do que vem ocorrendo com os jovens, os aposentados nunca tivessem chegado a estimular a atenção dos publicitários. |
e)
Se as vovós da TV não se assemelhassem tanto a caricaturas de jovens, terá sido evitada sua exposição ao ridículo. |
A vovó fala palavrões que escandalizam a adolescente.
Uma nova redação correta da frase acima, transposta para a voz passiva, será:
a)
Escandaliza-se a adolescente com os palavrões que a vovó fala. |
b)
Escandalizam a adolescente os palavrões que a vovó está falando. |
c)
A adolescente vem se escandalizando com os palavrões falados pela vovó. |
d)
A adolescente fica escandalizada pelos palavrões que são falados pela vovó. |
e)
Os palavrões que a vovó está falando têm escandalizado a adolescente. |
Está clara e correta a redação deste livre comentário sobre o texto:
a)
Impressionou-se o autor com estas incerções comerciais que introduzem "velhinhas modernas" nos mesmos. |
b)
Entre dois estereótipos, as imagens dos velhos relutam em representarem as verdadeiras qualidades delas. |
c)
Toda caricatura implica de que os traços retratados são grosseiros, em vista de deformarem a figura assim criada. |
d)
Os valores dos jovens vem triunfando, conquanto a velhice seja subestimada e pouco se atente aos seus atributos. |
e)
O mercado tem uma importância decisiva para o fato de que, hoje em dia, os velhos apareçam na TV como se fossem jovens. |
Os dois segmentos destacados constituem, respectivamente, um efeito e sua causa na seguinte frase:
I. Isso equivale a sair de um estereótipo // para cair em outro.
II. (...) a vovó fala palavrões // que escandalizam a adolescente.
III. A velhice passa a não ter rosto: // colocaram-lhe a máscara risonha de um jovem deslumbrado.
Atende ao enunciado SOMENTE o que está em:
a)
I. |
b)
II. |
c)
III. |
d)
I e II. |
e)
II e III. |
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