1 Lançado há 60 anos, Jean-Jacques Rousseau e a
2 ciência política de seu tempo, agora traduzido no Brasil,
3 continua indispensável para os estudiosos do pensamento
4 rousseauniano e, de modo geral, para quem se interessa por
5 filosofia política. Nenhum grande pensador na área das ciências
6 humanas produziu teoria, mesmo em níveis altamente abstratos,
7 sem o estímulo da experiência próxima e sem o confronto com
8 as ideias mais influentes de seu tempo. Mas nenhum grande
9 pensador é apenas um polemista orientado por objetivos
10 práticos. A história das teorias consiste, em grande parte, na
11 reelaboração e em novas formas de usos de conceitos.
12 A transformação da ideia de mercado, hoje imensamente mais
13 complexa do que no tempo de Adam Smith, é um bom
14 exemplo. Rousseau não foi apenas mais um contratualista.
15 Ele é original sobretudo pela função atribuída à associação
16 resultante do contrato: preservar não somente a segurança e os
17 bens dos contratantes, mas a sua liberdade. Da mesma forma,
18 a condição natural do homem — o estado de natureza dos
19 pensadores políticos clássicos e dos juristas — foi repensada
20 de forma inteiramente nova. Rousseau não se limitou a tentar
21 uma descrição de como viveriam os indivíduos fora da
22 sociedade política, isto é, sem a presença de um poder capaz de
23 legislar, de julgar e de impor o cumprimento da lei. Foi muito
24 além de seus antecessores e rejeitou, na construção da imagem
25 do homem natural, todas as determinações atribuíveis à vida
26 social, incluída a capacidade intelectual necessária para
27 conceber as normas adequadas à vida coletiva.
Rolf Kuntz. Um clássico sobre Rousseau.
In: Jornal de Resenhas, n.º 10 (com adaptações).
Julgue o(s) seguinte(s) item(ns), a respeito da organização das ideias e das estruturas linguísticas do texto:
O emprego do sinal indicativo de crase em "à vida social" (L.25-26) e "à vida coletiva" (L.27) é exigido por "atribuíveis" (L.25), no primeiro caso, e por ''adequadas" (L.27), no segundo, e pela presença do artigo feminino, que, nos dois casos, restringe o substantivo "vida".
Certa. |
Errada. |
Com o emprego da expressão ''nenhum grande pensador (L.8-9), de sentido generalizante, o autor do texto faz referência a Rousseau e seus antecessores, além dos demais pensadores na área das ciências humanas:
Certa. |
Errada. |
O emprego da preposição em antes de ''reelaboração'' (L.11) e ''novas formas'' (L.11) deve-se à relação de regência do verbo consistir, do qual esses termos são, no texto, complementos:
Certa. |
Errada. |
Caso se inserisse também imediatamente depois de ''mas'' (L.17), seriam preservadas a correção gramatical do texto e as relações de coesão e coerência nele construídas:
Certa. |
Errada. |
Os travessões empregados nas linhas 18 e 19 têm a função de isolar um trecho de valor explicativo que apresenta outra forma de nomear a ''condição natural do homem'' (L.18):
Certa. |
Errada. |
A argumentatividade do texto apoia-se na tese de que nem todas as grandes teorias rejeitam a experiência e as ideias em que se baseia a "construção da imagem do homem natural" (L.24-25).
Certa. |
Errada. |
1 Na ciência moderna, a ruptura epistemológica
2 simboliza o salto qualitativo do conhecimento do senso comum
3 para o conhecimento científico; no conhecimento-emancipação,
4 esse salto qualitativo deve ser complementado por um outro,
5 igualmente importante, do conhecimento científico para o
6 conhecimento do senso comum. A ciência moderna
7 ensinou-nos a rejeitar o senso comum conservador, o que em
8 si é positivo, mas insuficiente. Para o conhecimentoemancipação,
9 esse conhecimento é experienciado como uma
10 carência, a falta de um novo senso comum emancipatório.
11 O conhecimento-emancipação só se constitui como tal na
12 medida em que se converte em senso comum. Só assim será
13 uma ciência transparente que fará justiça ao desejo de
14 Nietzsche quando diz que "todo o comércio entre os homens
15 visa que cada um possa ler na alma do outro, sendo a
16 linguagem comum a expressão sonora dessa alma comum".
17 O conhecimento-emancipação, ao tornar-se senso comum, não
18 despreza o conhecimento que produz tecnologia, mas entende
19 que tal como o conhecimento deve traduzir-se em
20 autoconhecimento, o desenvolvimento tecnológico deve
21 traduzir-se em sabedoria de vida.
Boaventura de Sousa Santos. A crítica da
razão indolente, p. 108-109 (com adaptações).
Com base no texto acima, julgue o(s) item(ns) que se segue(m).
Subentende-se, no encadeamento dos elementos de coesão, o termo conhecimento depois de "um outro" (L.4).
Certa. |
Errada. |
Seriam mantidas a correção gramatical do texto e a coerência entre os argumentos, caso o trecho "a rejeitar o senso comum conservador, o que em si é positivo, mas insuficiente" (L.7-8) fosse assim reescrito: a rejeitar o senso comum conservador; e isso, em si, é positivo, mas insuficiente.
Certa. |
Errada. |
Devido à estrutura sintática em que ocorrem, o emprego dos pronomes após o verbo em "ensinou-nos" (L.7) e em "tornar-se" (L.17) é obrigatório; por isso, a correção gramatical do texto seria prejudicada se esses pronomes fossem utilizados como em "se constitui" (L.11).
Certa. |
Errada. |
Copyright © Tecnolegis - 2010 - 2024 - Todos os direitos reservados.